quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Valentes e Corajosos Homens do Mar - Segunda Parte

Na parte anterior você viu o perfil de Charles Grahann, a forma e os motivos através dos quais o fizeram se transformar no temível pirata capitão Moribundo. Agora verá sua trajetória de “bucaneiro” determinado em arquitetar o seu plano de se aproximar dos seus devedores e vinga-los sem piedade.

Após o saque ao Galeão Constelación, quem via Tigre Veloz singrando o mar calmamente amparado pela bandeira portuguesa, imaginaria de imediato tratar-se de ricas personalidades em viagem rumo a algum lugar majestoso, quem sabe até à corte brasileira.

Todos vestidos a caráter para não deixar qualquer dúvida e, também, para se protegerem de eventuais navios de combate a serviço da coroa inglesa ou francesa, cujos interesses particulares eram contrários à pirataria no Atlântico.

Para essas ocasiões de esplendor e garbo, se destacava à frente no comando, Charles Grahann elegantemente vestido com sua túnica branca, com os lindos botões dourados e o seu belo boné de capitão, desenhado com lustrosos detalhes também em dourado, navegando no hemisfério sul, logo abaixo a linha do equador.

Era tardinha quando o vigilante do alto do seu observatório avistou ao longe outro navio de aparência suspeita dirigindo-se em sua direção. Imediatamente, Charles Grahann deu suas ordens de manterem-se calmos como inofensivos passageiros. Também orientou os canhoneiros para se posicionarem e no momento oportuno tornarem visíveis as escotilhas e abrirem fogo sem chances de revide.

Quando o navio inimigo se posicionou a estibordo da nau comandada pelo astuto bucaneiro Charles Grahann, o qual naquela época, já ostentava larga experiência em combates. Ao se certificarem tratar-se de outra embarcação pirata, confiante de presa fácil, surpreendeu-os com uma saraivada de tiros efetuados por 14 infalíveis canhões. Sem hesitar Tigre Veloz de indefeso veleiro, se transformou num cruel dragão raivoso cuspindo o fogo da desgraça em direção à embarcação aventureira.

Antes de ir a pique, os desavisados sobreviventes inimigos ainda tiveram tempo suficiente para se atirarem ao mar, deixando a embarcação disponível para que os homens do capitão Moribundo recolhessem suas armas e munições, as quais viriam servir para abastecer e ampliar o seu arsenal de guerra.

A intenção não era deixar sobreviventes, mas valia o direito do salve-se quem puder. Sempre que ocorria um embate com resultados favoráveis e sem baixas, capitão Moribundo vestido como o elegante Charles Grahann e aprendiz de astrônomo cercado das inevitáveis superstições, acreditava que no momento das abordagens os astros estavam alinhados a seu favor. Também como curioso vigilante interessado em astronomia, gostava de se orientar pelas estrelas nas suas navegações noturnas, ocasião na qual ficava horas contemplando o espaço com um pequeno telescópio a bordo.

Novamente Tigre Veloz seguiu seu rumo mar adentro, saboreando o ar do verão e a sensação de liberdade. Confiante de que não teria nenhum transtorno pela frente, aproximou-se da costa caribenha, serenando nas águas rasas, mornas e azuladas do Mar das Antilhas.

Baixaram as velas mantendo-se suavemente à deriva, atentos ao posicionamento da bússola e das cartas náuticas. A intenção era aportar na Ilha de New Providence, de onde ouvira contar várias histórias de piratas e suas notáveis aventuras de saques milionários em riquezas provindas do continente. Antes de ancorar especificou detalhadamente como seu pessoal deveria se comportar, enquanto ele, e uns poucos permaneceriam a bordo.

Para aqueles que iram aportar em terra firma, Charles Grahann transmitiu-lhes as seguintes ordens:

– Quando chegarmos à ilha procurem andar em grupos menores;

– Comportem-se como pessoas ricas com destino ao Brasil na intenção de adquirir terras. Levem bastante moedas de ouro;

– Conversem pouco e ouçam mais. Deixam transparecer que suas passagens pela ilha ocorreram devido a erro nos cálculos de navegação, e que logo pretendiam retomar a viagem com o destino certo. Dessa forma atrairão a atenção dos faras-da-lei, e assim, chegaremos aos seus chefes, ou comandante. – Esclareceu Grahann.

A partir dos esclarecimentos apontados, deixou por conta de cada um. Não haveria de dar errado, eram homens experientes e sabiam se comportar como tal.

Não demorou muito o plano começou a surtir efeito, quando um dos grupos conseguiu fazer prisioneiros quatro elementos mal-intencionados que haviam tentado roubar-lhes.

Como não estavam lidando com amadores, foram facilmente dominados, sendo logo levados à presença do capitão que já os aguardavam em lugar seguro, fora do navio.

Forçados a falar contaram tudo o que queriam saber, e foram logo liberados confiantes de que imediatamente o seu comandante tomaria conhecimento sobre os fatos. E, com isto seria fácil ser capturado. O plano não era matá-lo, mas sim, se informar das forças repressoras existentes naquelas áreas e, também, quem dominava aquelas águas e ilhas para eles até então desconhecidas.

Através do astucioso plano, Charles Grahann, foi informado que Henry Morgan antigo corsário inglês, havia enveredado para o mundo dos infratores, com um diferencial: tornara-se importante pirata na região, após o seu ataque à cidade do Panamá em 1670, e posteriormente ter se transformado em vice-governador de Port Royal na Jamaica, além de rico dono de plantações de canas-de-açúcar.

Sem tomar conhecimento da importância do seu rival naquelas águas, soubera impor suas condições de audaciosos e temidos homens do mar. Entretanto, após cinco anos de inesquecíveis aventuras e se tornado rico juntamente com seus marinheiros e elegantes marginais, resolveu retornar à Europa.

Antes da partida fez uma cuidadosa reforma no Tigre Veloz, ampliando suas condições de acomodações e outros requintes internos, com a finalidade de tornar-se útil tanto quanto navio de combate e pirataria, como de uma luxuosa embarcação de cruzeiro.

Transformando-se num perigoso camaleão de luxo e de ataques precisos. Em sua primeira parada no litoral em território europeu, fez questão de instalar no seu camarote, importantes e modernos instrumentos de comando marítimo, só possíveis para quem possuía muito dinheiro, detalhe que para ele não fazia mais a diferença. O seu objetivo estava traçado e pensado, retornar à sua terra de natal e realizar as reparações que pesavam sobre si e seus companheiros.

Além de muito rico, sua imagem estava totalmente renovada. Os resquícios que ainda poderiam existir dos tempos em que era comandante pirata na área, haviam ficado para trás e o que importava daquele momento pra frente, seria concretizar sua vingança provando a inocência de todos eles.

Esclarecer as acusações de que foram vítimas pela armação engendrada com intenções maldosas de torná-los bodes expiatórios pelas pilhagens praticadas por ricas autoridades inglesas, dentre as quais George Lemmon, importante figura na Administração Comercial do Rei, principal beneficiado e inescrupuloso arquiteto do seu infortúnio e dos seus leais companheiros.

Nesse período em que esteve longe dos acontecimentos em torno do reino inglês e, também, dos ataques e saques impetrados por piratas na costa europeia e africana, imaginou-se esquecido pelas autoridades que atuavam contra a pirataria infringente, ou até mesmo, ser considerado como morto.

Como gratificação, depois de tanto tempo ausente dos limites europeus, foi o suficiente para construir o seu próprio império econômico, contabilizando muitas riquezas em ouro e pedras preciosas, oriundas das terras em fase de dominação e colonização pelos espanhóis.

Espantalho havia se transformado num mito do alto-mar, graças a sabedoria do seu comandante e sua aparência convenhamos, nada atraente. Dentre as batalhas travadas por eles, duas mereceram destaque. A primeira quando Tigre Veloz interceptou um Galeão Espanhol, desconhecendo naquele interim, a escolta que o acompanhava algumas milhas atrás.

Quando tudo parecia resolvido e os piratas do capitão Moribundo comemoravam, foram surpreendidos por alguns tiros de canhões, os quais, por pouco, teriam acertado em cheio sua embarcação. Após a surpresa, utilizando-se de calma e perícia, capitão Moribundo, ajudado por outros quatro companheiros que continuavam a bordo do Tigre Veloz, fez da embarcação saqueada de escudo. E, com extrema habilidade de uma raposa do mar, surgiu inesperadamente a bombordo sorrateiro e infalível.

Só precisou disparar quatro tiros certeiros de canhões no navio escolta para desativar todas as defesas do oponente, deixando a conclusão da missão por conta dos seus bem treinados e inflexíveis soldados piratas. O confronto deixou o cenário da imensidão marítima em um amontoado de destroços fumegantes.

Outra ocasião de destaque, foi no momento em que estavam ancorados na Ilha dos Mascates, próximo da gruta Fossor, quando receberam a visita indesejada do também pirata Henry Avery, outro ambicioso adversário em seu caminho.

Acontece que Henry Avery, havia planejado saquear o Galeão Espanhol, no entanto, os seus planos haviam naufragados com a antecipação ocasional praticada pelo capitão Moribundo. A partir daí, ficou estabelecido que Moribundo e os seus companheiros deveriam pagar pela ousadia.

O erro de Henry Avery, foi imaginar que a tripulação do Tigre Veloz, mesmo com a embarcação ancorada em terra firme, estava entretida comemorando o seu rico e triunfante saque. Esqueceram que o sempre atento, capitão Moribundo, com sua astúcia implacável percebeu algo estranho no cais e, alertou os seus comandados, para o perigo eminente, sem deixar transparecer que estavam prontos para o que der e vier. 

Capitão Moribundo e os seus treinados companheiros, encaram com coragem a luta, deixando Henry e os seus séquitos embasbacados, surpresos e sem saída. Podia-se ouvir o tilintar das espadas e a agilidade dos saltos felinos praticados pelos dois oponentes, esquivando-se dos golpes brutais das lâminas afiadas.

Havia sangue no canto da boca e nos dentes de Henry Avery, provocado pelo soco certeiro empunhando a espada do capitão Moribundo, que atingiu o seu maxilar durante um instante de vacilo.

A violência da pancada com o punho da mão esquerda agarrada ao cabo da espada transformou-se num duplo impacto. Capitão Moribundo era canhoto, o que tornava ainda mais difícil antecipar seus movimentos. Enquanto isto os demais lutavam impondo todas suas destrezas mortais.

Ocasião na qual ocorreu uma das mais sangrentas colisões de forças experientes, quando henry ficou mortalmente ferido pela espada cortante de Moribundo, revelando mais uma vez suas habilidades com as armas, principalmente com a espada e a adaga.

Agora em terras europeias sob o manto da retidão de um respeitado cidadão, o seu objetivo seria colher o maior número de informações sobre o que estava acontecendo na corte inglesa sem deixar suspeitas. Charles Grahann resolveu primeiro se instalar provisoriamente na França.

Neste país ele sabia que, uma vez infiltrado no alto escalão social, saberia como adquirir as informações necessárias para dar curso aos seus propósitos. Assumindo a identidade de um escritor irlandês, iria frequentar as altas rodas da cultura e da sociedade imperial. Em companhia de ilustres personalidades, foi colhendo dados importantes que lhe serviriam para arquitetar o seu plano.

Época em que ficou conhecendo Jacques Villefronsiér, rico empreendedor no setor de perfumaria. Não poderia ter uma parceria melhor e mais oportuna. Através de Jacques, Charles Grahann sempre bem acompanhado das mais importantes figuras da corte francesa, especializou-se em fragrâncias e nos processos de industrialização de perfumes e derivados.

Sua ideia inicial seria se especializar em vinicultura, assim penetraria com mais facilidade na nobreza inglesa grande apreciadora de vinhos. Contudo, a sorte acompanha aquele que persiste na busca por evidências importantes para o desenrolar do seu propósito, e de quem não tem medo de encarar as controvertidas situações. E o setor de perfumaria estaria de bom tamanho, mesmo porque as damas inglesas pela sua inegável vaidade, davam grande valor à perfumaria francesa.

Com os conhecimentos adquiridos e consolidando virtuosas parceria através do emprego de significativa quantia em recursos financeiros, idealizou abrir uma filial francesa de perfumaria no seu país.

O sucesso foi imediato e robusto. Com outra identidade, agora como Claude Fontaine, propositadamente criado para não revelar sua verdadeira cidadania, partiu com destino à Londres com o seu plano de vingança pré-estabelecido.

Lógico que faltava superar fases que deveriam ser respeitadas com extremo cuidado, para enfim, entrar no cerne da sociedade inglesa. Mesmo com a identidade de um importante investidor no setor de essências aromáticas, algo mais seria indispensável acrescentar. Mas não desistiria, os episódios seguintes, ainda que difíceis e tratados com a devida cautela, seriam superados de forma naturalmente, perspicácia é o que não lhe faltava.

 

OBS.: Acompanhe em breve, a última parte deste conto, o qual não deixa de ser uma aventura para cada leitor. Obrigado pela atenção.

Imagens: Internet, Fotosearch



Valentes e destemidos homens do mar – Primeira Parte



Enfim o dia amanhecia depois de uma longa noite inquietante. Pairava entre os ocupantes do navio de bandeira espanhola Constelación, um clima de tensão e temor de a qualquer momento uma tormenta quebrasse o mar com ondas de mais de quatro metros. Embora acostumados com situações de extremo perigo, ainda assim, temiam pela segurança da valiosa carga de especiarias que transportavam das Índias. 

No céu ensurdecedores trovões ecoavam manifestando o seu poder, seguidos de horrendos raios cortantes que riscavam a escuridão do céu, desenhando a imagem do pavor. No horizonte um denso nevoeiro não escondia a soturna realidade. Ainda assim, a embarcação cumpria o seu destino, navegando cautelosa nas proximidades da costa africana a oeste das Ilhas Canárias.

Algo semelhante havia acontecido tempos atrás, quando Constelación e sua tripulação enfrentaram um iminente naufrágio. A fúria das águas chegaram a lavar o convés fazendo da embarcação um brinquedo de criança. Enquanto isto seus ocupantes agarravam-se aos seus credos com fé.

Mesmo com todo esse clima perverso causado pela natureza arredia e descontente, a tripulação se sentia mais segura a ter que enfrentar a perigosa nau capitaneada pelo capitão Moribundo, nome atribuído a Charles Grahann, temido pirata, o qual tinha o Atlântico como o seu principal reduto de ação e pilhagens. Eram conscientes que, se o enfrentassem, a situação seria vencer ou morrer, sem a mínima possibilidade de contar somente com a sorte, mas sim, com a habilidade de cada um, e o derramamento de sangue inevitável.

O grande e pesado galeão espanhol Constelación navegava lento em direção ao Mediterrâneo. Algumas milhas adiante, Tigre Veloz o aguardava impune de qualquer suspeita próximo a Gibraltar. No momento oportuno bastava arriar a bandeira francesa da qual usava como escudo, para de imediato hastear a temida bandeira com a imagem estampada do Tigre Dourado, transformando-se no terror dos mares.

Infiltrado entre a tripulação do galeão espanhol, um fiel espião tinha a missão de facilitar toda a ação da embarcação pirata. Para tanto, provocaria um premeditado incêndio no tombadilho, lugar ideal e de fácil propagação das chamas, também ideal para emissão de sinal. A carga muito ambicionada de valor inestimável, da qual pretendiam subtrair os permitiria desaparecer por algum tempo, escondendo-se nas Antilhas em uma das centenas de ilhas do arquipélago das Bahamas.

Enquanto o tombadilho ardia em chamas e a tripulação envolvida em deter o fogo, eis que surge lado a lado do galeão como um fantasma, Tigre Veloz. A surpresa foi tamanha que a rendição aconteceu sem violência e ter que efetuar sequer um disparo. Os próprios piratas ajudaram a conter as chamas e garantir a segurança da carga motivo do ataque.

Após o vitorioso saque, capitão Moribundo representado pelo seu imediato, o Espantalho, liberou a embarcação e sua tripulação, para em seguida desaparecer mar adentro, com destino ao Mar das Caraíbas. Capitão Moribundo reuniu os seus valentes companheiros e expôs o seu plano de imediato:

– Companheiros amigos! – Disse em voz firme e alta.

Esta nossa conquista de hoje será a última, pelo menos por enquanto, nestas imediações.

Estamos sendo muito constantes por aqui. Com o resultado deste saque temos mais que o suficiente para ficarmos fora de ação por algum tempo.

Estou convencido e decidido de que devemos seguir para o Mar do Caribe. Temos informações que vultosos tesouros são transportados de lá com destino à Espanha e à França. Podemos ganhar muito mais, depois deixaremos de sermos notícias por uns tempos.

Para nossa segurança, estaremos distantes, navegando numa área considerada sem domínio, o que tornará nossas ações menos declaradas. Se tivermos sorte, podemos construir um grande império financeiro.

Temos uma meta, da qual não podemos nos afastar. É uma questão de honra, arriscar para defender nossa própria integridade de homens de bem. Pelo menos é o que éramos até sermos acusados e sentenciados injustamente pelo que não somos os responsáveis! – Não foi preciso dizer mais nada, sendo imediatamente apoiado por todos.

Uma vez acertados os detalhes partiram dali mesmo em direção dos seus ideais, como homens em busca da glória e da fortuna. Como homens destemidos, capazes de morrer se preciso, em busca de resultados que os facilitassem, provar suas inocências ultrajadas pela ganância e pela ambição da maldade escondida sob o manto da impunidade.

No ano de 1698, imponente navio ostentando magnífica bandeira inglesa, navegava retornando pra casa, quando foi surpreendido nas proximidades do Canal da Mancha, por outro navio também de bandeira inglesa, que Charles Grahann o conhecia muito bem. Seu comandante capitão Johnny Flampper era um respeitado corsário inglês, responsável por inúmeras façanhas bem-sucedidas. Na época a Inglaterra e a França haviam acabado de resolver algumas pendengas que resultaram em perdas para ambos os lados. Não bastasse, a Inglaterra começou a enfrentar seríssimos problemas de questões internas. A Revolução Gloriosa que acabara de ocorrer estabelecia o fim do absolutismo inglês e proclamava o Parlamentarismo.

Distante das formalidades políticas que aconteciam no império britânico, Charles Grahann, comandava sua tripulação a bordo do seu navio nas suas habituais viagens comerciais. De repente notou a aproximação inesperada de outro navio ostentando a bandeira inglesa. Embora sendo uma embarcação conterrânea, manteve-se cauteloso poderia ser na verdade, uma embarcação pirata disfarçada pelo brasão inglês. Ainda assim, arriou as velas para em caso de um confronto inevitável, não correr o risco de perder os seus mastros.

Entretanto, sua aparente tranquilidade não durou muito, quando é informado pelo observador posicionado no alto do mastro principal, o qual viu através da sua luneta Johnny Flampper dar ordens para atacar. Imediatamente Charles Grahann colocou sua tripulação em alerta, pronta para responder ao ataque com força total sem piedade. Assim que o seu inesperado oponente iniciou sua manobra para posicionar os seus canhões, ficou declarada a intenção. Agora seria só aguardar o adversário efetuar o primeiro disparo e estaria estabelecido o combate.

Enquanto os homens corriam de um lado para o outro procurando se proteger e contrata atacar, Charles Grahann começou analisar a situação procurando resposta para aquele ataque despropositado. Concluiu que a atitude Flampper só poderia ser ordens de alguém influente da alta corte comercial inglesa que o querida morto. Pelo que conhecia do seu adversário, não comportaria daquela forma deliberada sem motivos. Ainda mais em se tratando de um navio com a mesma bandeira, dificilmente sairia daquela situação impune das leis marítimas.

Com fúria, rapidamente também emitiu ordens para sua tripulação se posicionar adequadamente que seriam atacados. Uma batalha sem precedentes foi declarada entre as duas forças. Entretanto, com a destreza de exímio espadachim e certeiro atirador com suas armas, Charles Grahann só esperou o primeiro disparo e partiu para o revide. Para surpresa de Johnny Flampper que imaginava o valente Grahann desguarnecido e despreparado, presenciou uma batalha, da qual preferia não tem aceitado a missão.

Utilizando-se de muita astúcia, Charles Grahann enfrentou Johnny e seus asseclas. Depois de sangrento embate saiu-se vitorioso. Ainda que, ferido nas costas por um tiro de mosquete que o fazia sangrar muito, não o impediu de lutar até ao final. Como era jovem e forte suportou a dor, a fraqueza e a febre até ser levado ao litoral português e ser atendido por uma senhora que se prontificou ajudá-lo.  A atenciosa senhora, desconhecendo o seu nome, mesmo porque se encontrava bastante enfermo e, nos seus momentos de delírio pronunciar palavras desentendidas, começou a chamá-lo de jovem moribundo. Apelido que veio substituir sua verdadeira identidade, transformando-se uma incógnita para aqueles que não o conhecia e lendário para aqueles que o confrontaram.

Daí Charles Grahann, passou a ser conhecido como capitão Moribundo, tanto em homenagem à obstinada e cuidadosa senhora portuguesa, quanto pela simpatia que o nome causava.  Emblemático para a saga de um dos mais destemidos transgressores do Atlântico, no comando da tripulação do navio que passou a ser denominado de Tigre Veloz o impiedoso. E assim, a temível estampa do tigre dourado, animal que Grahann passou a admirar através das suas viagens às Índias, tornou-se sinônimo de bravura e terror. 

Tigre Veloz, seu navio agora de várias bandeiras, artimanha utilizada para confundir suas presas era velos e imbatível.  Com facilidade desaparecia no horizonte sem deixar rastros. Pela sua capacidade diabólica de evaporar após um bem-sucedido saque, e a sagacidade de um expert em traçar planos ousados, já havia ganhado destaque e temor para qualquer navegante.

Levava a bordo além de homens corajosos, 28 canhões escondidos por escotilhas que não deixavam quaisquer indícios e vestígios de suspeitas. Para todos que o viam não passava de um navio de passageiros. Por isto eles próprios o chamavam de navio camaleão. Quando atracava sua tripulação transitava pelas cidades livres e incólumes. E o seu comandante podia frequentar com naturalidade altas rodas sociais, como um elegante e bem-sucedido fidalgo de origem e descendência desconhecidas.

Por meio da astúcia de Charles Grahann, a esperteza e a camuflagem sob as vestes de elegantes senhores que, tanto o capitão Moribundo, quanto a sua tripulação conseguiam importantes informações, para arquitetar suas ações com antecedência. Tempo suficiente para um planejamento eficiente de suas atitudes e privilegiada competência, raramente perdiam uma nova empreitada. 

Grahann antes de se tornar homem do mar era uma pessoa comum, filho de uma bem estruturada família inglesa. Talvez seu fascínio pelo mar se devesse pelos inúmeros livros que havia lido no decorrer de sua juventude. Por determinação e cuidados dos pais, estudou sob a batuta de nobres professores em ricas e importantes escolas do reino. Dedicou-se com afinco em todas as disciplinas e assuntos diversos relacionados ao empreendedorismo, sobretudo, fluência em idiomas, história, filosofia e astronomia.

Havia lido autores importantes, os quais lapidaram os seus conhecimentos permitindo-o, comportar com desenvoltura e distinta elegância em qualquer situação. Com a idade de 30 anos, porte físico forte, esbelto era um exemplo de beleza, simpatia e sedutor contumaz. Capaz de impressionar as mais exigentes damas.

Acontecimentos involuntários e imprevistos às vezes determinados pelo acaso são capazes de mudar a postura de uma pessoa levando-a a trilhar caminhos antes não imaginados. Foi o caso do capitão Moribundo, ou capitão Charles Grahann. Antes, fazia parte de seus ideais, a exemplo do seu pai, ser um homem primado pela retidão, pela honra e a disciplina de um bom patriota. Totalmente ao contrário do homem que havia se tornado, um transgressor.

Até então, era um jovem e destemido corsário a serviço da coroa inglesa. Após ser traído de forma ardilosa, covarde e vergonhosa. Da qual lhe foi imputando crimes deploráveis de roubo contra o patrimônio econômico do seu país e assassinatos com requintes de crueldades sem merecimento, o obrigou dar um inesperado rumo para sua vida. Deixar para trás, ambicionados projetos de ser um grande empreendedor internacional, para se tornar no pirata mais temível e procurado em todo o Atlântico.

Como consequências, temendo ser julgado e condenado por crimes não cometidos, resolveu impor o seu próprio regime de lutar contra os mal intencionados líderes da coroa, de forma pouco convencional. Instituiu um propósito de construir o seu próprio império na ilegalidade, com a finalidade de obter o necessário para financiar seus objetivos de vingança e resgatar o honrado nome de sua família. Além é claro, de mostrar o seu poder de domínio sobre qualquer potência marítima da sua época. Independente da cor ou do desenho do brasão estampado na bandeira de suas vítimas.

Capitão Moribundo também usava como estratégia esconder-se por trás da figura de um de seus marinheiros e amigo de batalhas Gaborow, o Espantalho. Senhor surdo com aproximadamente 45 anos, aparência desgastada pelas brabezas do tempo, olhar firme e frio; sobrancelhas espessas transmitia a impressão de um homem implacável, reforçada por uma longa barba grisalha. Aparência com a qual permitia o seu comandante fora-da-lei se mantivesse no anonimato perante aqueles que não o conhecia.

Como Espantalho não podia se expressar através de palavras, seus gestou rústicos próprios do estereótipo de uma medonha e desalmada criatura com poucas características humanas, aqueles que o viam pela primeira vez, tinham a impressão de estar mais próximo de um assustador e intrépido espantalho. Com aparência asquerosa, era comum vê-lo usando um grande chapéu semelhante aos da corte francesa, destacando um grande penacho vermelho carmim na extremidade lateral de uma das largas abas.

Em breve a continuação desta intrigante história de ação e aventura. Muitos acontecimentos envolvendo coragem e emoção estará por vir. Não deixe de conferir.


Imagens: Internet.