quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Atarantada, jamais... Veleidade, talvez... Mar do sudeste, mas é claro!


Recebi esta semana, o livro de poemas Atarantada, de Noélia Ribeiro. Não resisti à atração insinuante dos seus versos de amor inquieto, envoltos num clima de ardentes desejos. Onde a força expressiva do lirismo implícito, denota a existência de um frenesi sintomático do sentimento declarado. Revelando a carência afetiva a despeito de sonhos flamejantes. No entanto, o seu fascínio poético transcende a sonoridade do vento, guiando o albatroz no seu voo sedutor, exibindo livre sua majestosa elegância. Fazendo-se ressurgir do seu exílio fóbico, para se juntar aos libertos. Como manifestantes silenciosos, riscam o colo das nuvens escrevendo palavras extraídas da mente contemplativa.

Senti-me sendo transportado no dilúvio da sua inquietação ardente e tempestiva. No mesmo momento em que descreve a lascívia, beija o amor, caminha pela praia, respira o orvalho da manhã, sonha os sonhos de uma deusa, até lembrar-se do seu pai Raimundo, exprimindo a mesma doçura do amor imutável. Este irresistível tour sobre um belo tapete voador, fez erigir-me na fortaleza de um colosso, aspirando o suave perfume do suor brotando na pele depois de um clímax memorável.

Noélia tem a versatilidade segura e a beleza de uma borboleta que escolhe com sabedoria a flor onde pousar. Está conectada a uma mente saudável e intangível semelhante a do elefante que jamais esquece o seu passado. Sua flor preferida, acredito eu, são os lírios, porque não dissimulam sua virilidade autêntica, nem se esconde nas brumas do anonimato. Se destaca pela imponência dos seus filetes embrionários, tornando-se mais entorpecedor que o cravo, casualmente visível na lapela de um “black-tie”, "blazer" ou paletó refinado em noite de gala. Entretanto, o seu tempo de deslumbre é tão efêmero, quanto à vaidade do seu hospedeiro.

Assim que terminei de ler o seu livro Atarantada, título que desconheço o motivo, sei apenas que não existe nada de inexplicável no seu conteúdo. Passei a refletir sobre a essência das poesias nele eternizadas. A partir daí, achei que deveria procurar interpretar a subjetividade que as envolvem. Então, notei que havia chegado o momento de rever o filme Sociedade dos Poetas Mortos, depois de muitos anos que o havia visto pela primeira vez. O roteiro escrito por Tom Schulman transportou-me para uma realidade notável, vivida pelos alunos da elitista Academia de Welton, em 1959, arraigada a tradições conservadoras e arrogantes. Contradizendo o pensamento de alguns alunos das aulas de literatura, capitaneadas pelo professor de poesia John Keating, interpretado por Robin Williams, os quais acreditavam na ideia do “Carpe diem” – aproveite o dia, aproveite a vida.


Eis aí, quatro poemas extraídos do livro Atarantada, de Noélia Ribeiro:




Carne Viva

A carne é fraca
diante de tudo
o que pulsa e invade.
Sofre de repulsa
por formalidades.

A carne é fraca.
Entra em cena
com alguns disfarces
mas não teme
mostrar a outra face.

A carne é repetente.
Escuta a lição
e não aprende.
Sabe somente
de inquietação.

Para ela tanto faz
se o contentamento
vem a prazo ou à vista.
Este é o melhor momento.
A carne é hedonista.

Não se alimenta apenas
de olhares furtivos.
A carne também é aberta
ao enlace permitido.
 

Quando aprisionada,
a coitada sucumbe
de dor que não se aplaca,
pois, embora atrevida,
a carne é muito fraca.





Mar do Sudeste


As ondas vão e vêm,
lavam meus pés
e o corpo também.

Só não lavam a alma.

O mar o corpo acalma,
mas os pensamentos, não.
Estes vêm e vão
em ondas de aperreio.

Imenso mar do sudeste,
purifica meu corpo sem veste,
afasta os males da alma
e segura o timão dos devaneios.




Veleidades

Sobre o colchão lilás do meu sonho
dormem os homens
que meu pudor indeciso permite.

Permanecemos a sós
naquele quarto
pequeno para meus voos,
grande para meus sonhos.

No colchão lilás do meu quarto
escrevo poemas de amor,
faço planos que não realizo,
leio Elisa, Nicolas, Carlos,
ouço Chico, Ella, Zeca
e sonho...

Assim gosto de ser:
uma mulher sonhadora
que partilha com os outros
música, letra e prazer,
verdades e veleidades
em meu colchão lilás.



Se você aparecer sem avisar

Se você aparecer sem avisar,
poderá parecer-lhe estranho
ver-me Afrodite inaugurada
emergindo do oceano.

Se você chegar de súbito,
poderá encontrar-me destemida
tomando de Eva a maçã
para dar a primeira mordida.

Se você for caminhar pela praia
sem antes comunicar,
poderá avistar-me qual Daniela,
louca para contracenar.

Mas se você marcar um encontro
com data, hora e lugar,
surgirei imaculada.
E depois de um suave beijo
e do arrepio oculto do seio,
eu lhe direi de forma singular:
faz tempo que não o vejo.



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Imagens: Google