segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Sidney Sheldon morre aos 89 anos

Sidney Sheldon morre aos 89 anos



"Nada pode impedi-lo quando você estabelece um objetivo. Ninguém pode impedi-lo, a não ser você mesmo. Eu acredito assim." Este pensamento é de Sidney Sheldon. Provavelmente quando construiu esse conceito sobre o vitorioso, já era um escritor consagrado. Contudo, esse raciocínio justifica sua prática, pelo fato de sermos nós mesmos os responsáveis pelo nosso futuro. Mahatma Gandhi também contribuiu com essa lógica, quando disse: "O futuro dependerá daquilo que fazemos no presente."

Sheldon iniciou sua bem sucedida carreira escrevendo música na sua cidade natal ainda na adolescência. Em 1937, conseguiu seu primeiro emprego como leitor de roteiros. Dedicado e visionário para o progresso e com o olhar atento para o seu crescimento profissional, em pouco tempo passou a escrever argumentos para os estúdios de cinema sem muito sucesso. Sem deixar-se abater diante das dificuldades, passou a criar "livretos" para musicais da Broadway. Já em 1969, depois de ter conquistado o prestígio como roteirista em Hollywood, lançou seu primeiro romance: A Outra Face, tornando-se a partir deste ponta pé inicial, na maior celebridade literária dos Estados Unidos e em um dos maiores escritores de "best-sellers" de todos os tempos.

O escritor Sidney Sheldon vendeu mais de 300 milhões de livros em 180 países, traduzidos para 51 idiomas e conquistou o recorde do Guiness como o autor mais traduzido do mundo. Sheldon além, do sucesso em vendagens e admiração dos leitores, recebeu quatro dos mais festejados prêmios da industrial cultural norte-americana: o Oscar do cinema; o Tony, máximo do teatro; o Emmy em reconhecimento pelo seu talento nas criações para televisão; e o Edgar da literatura.

Sheldon morreu nos Estados Unidos em 31 de janeiro de 2007, aos 89 anos, por motivos de complicações causados por uma pneumonia.

O artigo e entrevista com Sidney Sheldon, resultado desta publicação, é do jornalista Mario Mendes para a revista Isto É Senhor de 5 de dezembro de 1990, páginas 72 e 73. Boa leitura.

Obs.: Durante a leitura você vai deparar com informações contendo números contraditórios entre os autores, tanto da reportagem e entrevista, quanto do link sobre Sidney Sheldon da Enciclopédia Wikipedia com reconhecimento internacional pela excelência do seu banco de dados. Você ainda poderá acessar os links de Jeanne é um Gênio e Casal 20, filmetos permitidos pelo YouTube.




Ressaca
Lembranças da Meia-Noite traz escritor fora de forma


Quando brigava com os censores no auge da ditadura militar. Chico Buarque proclamou: "Você não gosta de mim, mas sua filha gosta." Com Sidney Sheldon, o consagrado escritor norte-americano de best-sellers, ocorre o mesmo fenômeno. Você pode não gostar, mas sua secretária, sua mulher, sua sogra, e, quem sabe, até seu analista e seu melhor amigo, gostam. Ou melhor, adoram. Desde que estreou nas letras em 1968, com A Outra Face, um thriller com pinceladas psicológicas, o autor nunca mais deixou de frequentar a lista dos mais vendidos em todos os países onde é publicado. No dia 20 de novembro, Mr. Sheldon desembarcou em Porto Alegre e em seguida esteve em São Paulo, Rio e Bahia para lançar seu mais recente escrito, Lembranças da Meia-Noite. Trata-se do décimo romance saído do mágico processador de palavras do autor, e da continuação de O Outro Lado da Meia-Noite.

Naquela história, escassa de valores literários, mas transbordante de paixão, sexo, volúpia, perigo e vingança. Sheldon contava a trajetória da bela e trágica Noelle Page. Por causa de um louco amor, a heroína e seu amado sucumbem diante de um pelotão de fuzilamento. Mas sua rival, Catherine Douglas, sobrevive, sozinha e desmemoriada, em um convento carmelita na ilha grega de Loanina. No epílogo surpreendente de O Outro Lado da Meia-Noite, Sheldon dava a entender que Catherine havia encontrado um protetor na figura do magnata grego Constantin Demiris.

Centrando a ação nestes dois sobreviventes, Sidney Sheldon quer que Lembranças da Meia-Noite seja mais do que uma simples sequência. Essa é a principal falha do livro. Afirmando que se trata de uma história independente, o autor tenta agradar tanto quem leu o livro anterior quanto quem nunca ouviu falar dele. Daí que a trama tem início com um flash-back muito mal alinhavado dos acontecimentos que levaram Catherine à total perda da memória e Demiris a uma improvável sede de vingança. Em O Outro Lado da Meia-Noite, Sheldon pode ter sido frívolo e superficial, mas os bem traçados perfis das duas heroínas, Noelle e Catherine, mostravam um vigoroso contador de história, um hábil manipulador das emoções dos leitores. Nessas Lembranças da Meia-Noite, resta apenas a superficialidade.


Lembranças deve decepcionar, sobretudo os fãs de O Outro Lado da Meia-Noite - transformado em filme, estrelado por Marie-France Pisier e Susan Sarandon e muito reprisado em nossa tevê. Para que a trama seja convincente e o leitor se apaixone pelas personagens centrais, o autor lança mão de um expediente dos mais frouxos. Submete Catherine e Demiris a um tratamento de beleza logo no primeiro capítulo. Ela que era apresentada no livro anterior como uma mulher apenas corajosa e simpática, que finalmente se entrega ao alcoolismo e à decadência física, depois de uma temporada sob os cuidados das freiras carmelitas, reaparece esguia, glamourosa, elegante e irresistível. Um ideia infalível para ser usada em um comercial de Spa. Quanto a Demiris, antigamente um senhor idoso e atraente apenas pelos milhões que tem no banco - no livro ele é a terceira maior fortuna do mundo -, agora é um homem de charme avassalador.

Outras personagens são jogadas no livro como objetos dispostos em um cenário, apenas forma e nada de conteúdo. Destinadas simplesmente a ocupar espaço. Como a bela - todas as mulheres nos livros de Sheldon são incrivelmente belas, não importa por que tormentos ou acidentes tenham passado - Melina, infeliz mulher do frio e calculista Demiris. O melhor do livro é que o ritmo sempre vertiginoso da escrita do autor dessa vez encontra um enredo tão fraco que pode ser lido em apenas uma tarde. Não toma tempo. Não atrapalha. Melhor esperar pelo Sheldon safra 91, The Doom's Day Conspiracy, que ele promete para quando setembro vier



"Sou escritor por acidente"
Sheldon e a receita para criar best-sellers



Aos 73 anos (época da entrevista, 1990) Sidney Sheldon é autor de dez best-sellers, 30 roteiros para Hollywood, 350 scripts para a tevê, dirigiu um filme e é traduzido em 54 idiomas em mais de 100 países. Cifras que ele graciosamente informa com a tranquilidade de um profissional experiente em conceder entrevista. Todas essas quantias, é claro, significam milhões de exemplares vendidos em todo o mundo e outros tantos em sua polpuda conta bancária. Recompensa mais que justa e previsível para um homem que se define como "um escritor que entretém seus leitores."

P - O que o sr está escrevendo no momento?
R - Estou terminando um livro que será lançado em setembro de 91 nos Estados Unidos: The Doom's Day Conspiracy. Ele será transformado em um filme pela Warner Brothers.
P - Sua carreira começou como roteirista em Hollywood, certo?
R - Escrevi 30 roteiros para Hollywood (ganhou um Oscar em 47, por O Solteirão Cobiçado), dirigi um filme (O Palhaço que Não Ri), produzi alguns outros e escrevi cerca de 350 scripts para episódios de séries de televisão que eu criei, como Jeanne é um Gênio e Casal 20. Por isso acho que tenho uma certa experiência no negócio.
P - Por que o sr. decidiu escrever romances?
R - Foi um acidente. Escrevi um roteiro que era difícil transformar em filme ou programa de televisão. Era sobre um psiquiatra tentando investigar um crime. Tudo se passa na mente desse psiquiatra e não há como fazer isso sem ser em um livro, onde você pode expor ao leitor o que a personagem está pensando. Foi meu primeiro romance: A Outra Face.
P - Isso foi em 68. E desde então o sr. passou a não gostar dos críticos?
R - (exaltado) Eu gosto de críticos honestos. Não dos idiotas que dizem que um livro, só por ser um best-seller, não presta. Como eles ousam dizer que tudo que é um sucesso não tem qualidade?
P - Por que as principais personagens de seus romances são mulheres?
R - Porque eu amo as mulheres. Elas são muito mais interessantes e complexas do que os homens. E muito mais vulneráveis. Meus editores fizeram uma pesquisa e descobriram que 60 por cento dos meus leitores são mulheres. Ao mesmo tempo, ter 40 por cento de leitores homens também é uma façanha. E isso porque meus livros são excitantes, cheios de aventura e é isso que os homens buscam em um livro.
P - O sr. tem uma fórmula para contar uma história?
R - O que eu faço é o seguinte: procuro escrever o que me excita, o que provoca minha imaginação e minha emoção. Sou traduzido em 54 idiomas para mais 100 países. Levo cerca de dois anos e meio escrevendo uma história.
P - Por que tanto tempo?
R - Eu poderia muito bem escrever dois livros a cada ano, se ditasse cerca de 50 páginas por dia. Mas prefiro aproveitar mais o meu tempo, tornando um livro tão bom quanto eu sei fazer.
P - Dos seus livros, qual o seu preferido?
R - O próximo.
P - Qual o seu autor favorito?
R - George Bernard Shaw.
P - Quais seus autores best-sellers favoritos?
R - Gosto de E. L. Docotorow, Tom Wolfe e Tom Harris.
P - O sr. gosta de suas rivais Judith Krantz e Jackie Collins?
R - Não tenho muito tempo para ler quando estou envolvido com um de meus livros. Prefiro ficar em meu próprio mundo do que entrar no mundo de outros autores.
P - Das suas heroínas, qual a sua favorita?
R - Tracey Whitney, de Se houver Amanhã. Quando escrevi O Outro Lado da Meia-Noite criei a personagem de Catherine achando que as mulheres se identificariam mais com ela. Ironicamente as mulheres me escrevem dizendo que adoram Noelle Page, que de certo modo é a vilã da história.
P - O que faz de um livro um best-seller?
R - Principalmente boas personagens. O importante é o leitor gostar da personagem, não importa se ela é boa ou má. Você tem de ter boas personagens e colocá-las em situações interessantes.
P - O sr. sabia que é o autor favorito da primeira-dama brasileira Rosane Collor de Mello?
R - Não, mas estou lisonjeado.
P - O sr. se define como um escritor ou um entertainer?
R - Sou um escritor que entretém seus leitores.


A propósito, você já acessou a fan page do meu livro infantil Juju Descobrindo Outro Mundo? Não imagina o que está perdendo. Acesse: www.fecebook.com/jujudescobrindooutromundo.

E o site da Juju Descobrindo Outro Mundo, já o acessou? Se eu fosse você iria conferir imediatamente. Acesse: www.admiraveljuju.com.br 

Imagens: Google Imagens

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

No olho do furacão



Existem pessoas que escrevem sem saber por que escrevem. Não acreditam que serão lidos, ou até mesmo, se seu trabalho será notado nas estantes das livrarias. Muitas vezes nem acreditam no interesse de uma Editora e, por conseguinte, tampouco de uma livraria. O que não foi o caso de Bruna Lombardi, famosa como modelo fotográfico e como atriz de TV e cinema. Ainda mais com o incentivo de um escritor consagrado, como foi o caso de Rubem Fonseca, quem lhe deu o empurrão desafiador para que escrevesse seu primeiro romance, depois de já ter publicado três livros de poesias. Veja a história e como surgiu "Filmes Proibidos", romance da escritora Bruna Lombardi e o que avaliou a temida crítica.

Este artigo foi extraído da revista Isto É de 5 de dezembro de l990, escrita pelo jornalista Alcino Leite Neto, págs.: 70, 71 e 72.

No olho do furacão
Bruna Lombardi lança seu primeiro romance e diz que escreve com o caos em volta de si.


Enquanto chove, ela diz: "Quero ser uma obscura mulher do século XX." Foi um século longo, sem grand finale. Nele, Bruna Lombardi já viveu 37 anos, sob o signo de Leão, amiga dos animais, das sete artes, dos livros. Quando era garotinha, a janela de seu quarto dava para uma paisagem de telhados que se amontoavam lá fora. Passava as horas lendo. Em outras, fingia ser atriz de cinema. Leu tanto como se tivesse que ser salva pelos próprios livros, ela conta. A obscura menina afogava. "E todas aquelas pessoas, os escritores, me estendiam a mão, me resgatavam do pesadelo."

Bruna estava almoçando no Rio de Janeiro com o escritor Rubem Fonseca quando ele lançou o desafio? Escreva um romance. Ela se afogou. Não queria. Mas a ideia foi tomando conta da ex-manequim, da atriz, da poeta Bruna Lombardi. Era 1986. Três anos depois o romance estava pronto: Filmes Proibidos. Ela diz que quase enlouqueceu até que colocasse o ponto-final no livro. Quis parar várias vezes, desistir. Não conseguia. Que coisa a levava adiante? A vaidade? "A vaidade sem dúvida é uma coisa muito movedora, mas no caso seria burrice. Uma apresentação na tevê dá muito mais retorno que vãs palavras num livro." Então, a imortalidade, fazer parte da história da literatura? "Não acredito na imortalidade, o que sobra é a atrocidade dos museus, sua falsidade, sua forma de redimir a história do erro."

Não, ela não sabe que coisa a fez continuar o livro. Ela suspeita: "Acredito que existe um elo de generosidade, um movimento que transforma leitores em escritores como forma daqueles agradecerem a estes por tanta coisa que foram capazes de dar, escrevendo. É nisto que acredito, não vejo outra explicação para alguém que passa uma noite em claro procurando uma palavra." Ela passou algumas. Mas em geral dormia cedo, não acordava tarde, por volta das 8h, às vezes abandonava o livro, outras vezes escrevia o dia inteiro. Largou a tevê, deixou de lado a poesia - era só Filmes Proibidos.

Ela não sabia escrever romances. Não conhecia direito a arquitetura, como ela diz. "Mesmo se você leu muito, isto não significa que você vai saber fazer. Não é olhando uma casa que você aprende a construí-la." De vez em quando, batia nela a crise. O diagnóstico era simples, doloroso: uma sensação de inutilidade absoluta do que estava fazendo. "Mas esta sensação só nascia no meu contato com os outros, com este mundo onde a literatura dá a impressão de ser tão marginal, tão desimportante, era como fazer uma escultura numa ilha deserta." A crise passava quando ela esquecia que o livro poderia ser publicado, excluía a possibilidade de ser lida.

O livro foi nascendo: uma mulher de 30 (sem nome), uma metrópole, um mundo, uma história de amor, inúmeras obsessões, personagens e histórias "em perdição", isto é, no ritmo das coisas contemporâneas - fugazes. A metrópole só podia ser São Paulo. "É uma cidade de tamanhos contrastes, tanta solidão, tanta luta, que me comove demais. Acho que o livro é registro do meu amor extremo por São Paulo." Também por tudo que é contemporâneo, terrivelmente contemporâneo. "Isso me invade, bips, flippers, vídeos. Como não relatar tanta interferência?" Em suma, o caos, o exterior rebelado. "Sou uma pessoa que escreve com o caos em volta de mim." E dentro de si? "Talvez eu tenha necessidade de fazer uma literatura pacífica, por isso."

Já tinha acontecido antes. Um belo dia, Bruna disse: acabou, acabei. Das outras vezes fora mentiras, pura preguiça. Não agora. "Tinha chegado ao meu limite." The end. No dia seguinte, uma sensação absolutamente estranha, "meio pós-operatória". Filmes Proibidos estava pronto. Ela dera o máximo. O livro era até onde podia ir. "Este trabalho, o período que eu me dei de pesquisa, de escrita, é o meu limite. Se ele não é melhor, é porque eu não sou melhor que isto. Posso progredir no próximo, ou regredir. Mas, agora, ele é o que eu sou, o que eu posso."

Rubem Fonseca foi o primeiro leitor. Lógico. Fez comentários gerais, nada em específico. Bruna não revela quais. Redobrou sua proposta: "Agora você volta para casa e começa a escrever outro." Bruna foi rápida: "Nem morta." Não passou muito tempo, já estava pensando no próximo romance. Mas não quer escrevê-lo agora. Vai continuar seus estudos de atuação e roteiro em cinema, em Los Angeles.

Quer escrever para cinema, a profissão de seu pai, o diretor de fotografia Ugo Lombardi, italiano de Roma que emigrou para o Brasil em 1948, para o Rio de Janeiro, onde Bruna nasceu. Quando o pai foi convidado para trabalhar na Vera Cruz, a indústria de cinema que se tentou fazer em São Paulo, Bruna e a mãe vieram com ele. A menina cresceu na Paulicéia. 

Começou a escrever poemas, fez filmes amadores, transformou-se em modelo de fotos e comerciais e acabou convidada pela Globo para estrelar Sem Lenço, Sem Documento, novela de Mário Prata. Foi sua primeira aparição na tevê, da qual se tornaria uma das imagens mais famosas. Lançou três livros de poesia e uma história para crianças. Não sonha em pertencer ao meio literário: "O que é isto? Não sei bem, não tenho compromisso com nada." Sobre o julgamento da crítica é taxativa? "Não me assusta a ideia de que as pessoas não gostem do que eu escrevo de mim. Sou uma pessoa tão dura comigo que ninguém vai me dizer nada que eu já não tenha dito." Talvez por isso não se assustou quando soube que a escritora Hilda Hilst tinha dito que Bruna Lombardi era uma grife, não uma escritora. "Eu adoro o que a Hilda escreve, levo a opinião dela em conta. Mas eu não tenho intenção de me poupar. Se tivesse não iria cair na vida desse jeito", ela diz. Enquanto isso chove.
A crítica
Muito clima, pouca literatura

Filmes Proibidos, o primeiro romance de Bruna Lombardi, tem mais timing, clima e teoria do que boa literatura. Se é que a grande literatura não virou coisa do passado, então, para existir, ela exige extemporaneidade, ou seja, uma visada absolutamente singular capaz de selecionar o enxame de coisas e sentimentos que reivindicam sua presença na obra. Nos filmes de Godard - para ficar na referência privilegiada do livro, o cinema - a narração é perdulária, mas a escritura é concentrativa. Sem o movimento interior. À Procura do Tempo Perdido seria somente uma enorme crônica de costumes. O drama de Bruna não é o excesso de citações - é sua desmesurada ambição de dar conta da coisa atual, personagens, objetos, emoções, assumindo no próprio texto a volubilidade de tudo que nos cerca.

Seja em Wim Wenders, Coppola ou Biade Runner, a tessitura do tempo, de um tempo, é bastante nítida. 

Desatar seu fio é construir a narração. Mudam os cenários, mas a vida é repetição. O fake de Las Vegas permanece como trompe-l'oeil de um filme como No Fundo do Coração (de Coppola): na frente da cena, não temos mais que as atribulações do amor, afinal eternas. Alice nas Cidades é menos contemporâneo por seus trens, fotos ou aeroportos do que pela suspensão da ação. Wenders investe todo seu interesse neste tempo "em aberto" que permite a assunção da personagem, não de sua psicologia, mas de uma espécie de física dos sentimentos.

Exemplos ao acaso, alguns dos inúmeros que passam pela cabeça da personagem central e narradora de Filmes Proibidos, cujo nome não é apresentado. No final do romance, ela dirá: "... todos esses clichês cinematográficos na minha cabeça." Está fazendo seu exorcismo, idêntico ao da escritora, sob o risco de abandonar a leveza: "Por que de repente tudo fica tão pesado?" O romance cresce aí, adensa-se, quase se absolve. Mas feito o balanço, deixou pouca coisa além de um amontoado nervoso de histórias, muitas delas - e muitas de suas personagens - mais tentadoras que a narrativa central.

Filmes Proibidos é o relato de uma espera (este mito tão feminino, diz o livro). Da solidão, da perseverança, da obsessão que envolve a espera, um movimento em tudo contrário à realidade narrada, onde "as coisas não duram, se desfazem". 

É também um livro sobre a resistência à espera, a incapacidade de esperar. O romance vive o conflito em sua própria estrutura. Não deixa as personagens crescerem, as situações se abismarem, apoiando-se tão somente no movimento tão plano da personagem central.

Em meio a tudo aquilo que proclama aos gritos a sua existência, gatos, néons, tevê, crianças, só a literatura é capaz de fazer cada coisa esperar a sua vez. Desta expectativa, desta seleção, talvez dependa o futuro mesmo da literatura, inclusive a de Bruna Lombardi. (ALN)

Em breve uma ampla reportagem, seguida de uma proveitosa entrevista com o escritor Sidney Sheldon, vale a pena esperar, será logo.


A propósito, você já acessou a fan page do meu livro infantil Juju Descobrindo Outro Mundo? Não imagina o que está perdendo. Acesse: www.fecebook.com/jujudescobrindooutromundo.

E o site da Juju Descobrindo Outro Mundo, já o acessou? Se eu fosse você iria conferir imediatamente. Acesse: www.admiraveljuju.com.br 

Imagens: Google Imagem