quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Ambição, o destino de uma raridade. - Última Parte.











O vaso mais caro do mundo é um vaso de porcelana feito no século 14, no período Hongwu da dinastia Ming. Ornado com flores ele tem uma forma extraordinariamente rara para o período o que elevou seu valor a 10,9 milhões de dólares, pago por um milionário dono de um cassino.



Era quase noitinha quando Gustave recebeu um telefonema pelo celular justamente da polícia, informando-lhe de que um corpo fora encontrado nas imediações do rio Magnan com as características de quem procurava. Imediatamente em companhia de Sthéfhanie seguiu para o necrotério confirmando a suspeita, o corpo pertencia realmente a Olivier Maillard.

Permaneceram em Nice por mais dois dias em incansáveis buscas por resultados que os levassem aos criminosos, como nada se modificou, retornaram à Paris deixando a polícia local encarregada de continuar com as investigações. Quanto aos dois Radulfo e Morgana, potenciais responsáveis nenhuma novidade. Tudo indicava que não se encontravam mais por aquelas bandas.

Ao chegarem à Paris depois das acomodações, cada um em sua casa e resolver algumas necessidades pertinentes ao caso, Gustave procurou Jean-Mari para uma conversa imprescindível. Quando foi informado através do genro de Pierre François, que um funcionário do Louvre havia ouvido sem intenção uma conversa pelo telefone do Sr. Alain Dubreuil, dizendo ao seu interlocutor de maneira suspeita extremamente exaltado, de que já havia se encarregado do sumiço do piloto Olivier. Preocupado com aquela atitude insana, ligou imediatamente na tentativa de avisá-lo dos riscos de morte de que estaria sujeito, devendo tomar muito cuidado e se possível retornar com urgência à Paris. Como não foi encontrado deixou recomendações de retorno imediato na secretária eletrônica, depois de ter insistido no seu celular que se encontrava indisponível.

Gustave não teve dúvida, as palavras ditas por Jean-Mari confirmavam realmente com o ocorrido e o registrado na secretária eletrônica do telefone, que ele mesmo havia escutado na ocasião da sua vistoria no apartamento. Agitado com a possibilidade de uma eventual fuga do Sr. Alain Dubreuil, procurou a todo vapor o curador nas dependências do Louvre encontrando-o pronto pra sair. Carregava uma valise executiva, vestido de maneira como quem não pretendia retornar tão cedo. Assim que se aproximou disse-lhe sem hesitação:

- Sr. Alain é preciso que me acompanhe. – Disse Gustave tentando evitar qualquer ação inesperada do seu investigado.

- Me acompanhe como, para aonde? – Perguntou curioso Alain.

- Você terá que sair daqui imediatamente e se possível sem muitas perguntas, por enquanto. – Respondeu Gustave ameaçador, observando com curiosidade todas as movimentações no ambiente. A situação requeria atenção dobrada. Poderia estar acontecendo de o curador estar acompanhado de alguém envolvido na trama dos acontecimentos.

- O que está acontecendo? E quem é você pra me falar assim? – Respondeu ríspido Alain.

- Eu não vou te acompanhar coisa alguma, tenho muito que fazer pra ficar obedecendo a ordens. – Respondeu irônico Alain.

- Ah, vai sim! Vai agora mesmo, sua vida não está valendo um centavo de Euro. – Rebateu Gustave já com indício de impaciência.

- Como assim? O que quer dizer com isto? – Perguntou preocupado Alain, procurando entender o apelo inesperado de Gustave.

- Olivier está morto. – Disse de uma vez só os motivos.

- Você fracassou, foi descoberto e ainda ficou mal com os seus devedores, agora as coisas mudaram e virou alvo pronto para ser executado. – Completou Gustave, deixando Alain de antenas ligadas.

- Como assim, do que está falando? – Questionou Alain já espantado e nervoso.

- É o que escutou! – Disse sem meias palavras Gustave.

- Olivier está morto e o corpo foi encontrado perto do rio Magnan, todo mutilado. – Esclareceu Gustave, tentando alertar o seu agora protegido e chave dos mistérios que envolvem o sumiço da raridade roubada.

- E o que eu tenho a ver com isto? – Dissimulou Alain, tentando ganhar tempo.

- Você encomendou a morte de Oliveir por causa do vaso, agora está em maus lençóis. Estão te procurando e é o suspeito número um. Existem provas que o comprometem. – Reiterou novamente Gustave tentando persuadi-lo a o acompanhar.

- Você o condenou, tentando encobrir suas intenções. O usou como elemento suspeito com o objetivo de se safar simulando uma queima de arquivo. Só que Olivier era inocente, sem saber de nada, não foi perdoado para não comprometer os autores e o mandante. Que no caso tudo indica que se trata de você. – Esclareceu Gustave, indo fundo na questão, sem mais delongas. Atacou atingindo-o diretamente na sua ferida, lugar onde realmente sentiria dor e procurasse uma saída que o isentasse.

- Você está maluco? Isto é um absurdo! Eu não encomendei morte de ninguém. Minha profissão é lidar com obras de artes, não assassinato. Por isto sou o curador desta mostra do Sr. Pierre François e de tantas outras coordenadas e administradas por mim, tanto aqui no Louvre como em outras salas especializadas pela Europa. – Tentou uma saída honrosa Alain.

- É o que veremos! Agora me acompanha, ou quer que ligue já para a polícia? – Retrucou sem dar muita importância aos seus argumentos.

- E pra onde você pretende me levar? – Perguntou Alain com certa preocupação e admitindo que o melhor no momento seria mesmo acompanhar Gustave.

- Isto não importa. O melhor é me acompanhar e ponto final. Está me fazendo perder muito tempo, e o que resta pode não ser o suficiente para continuar respirando – Quando Gustave disse isto Alain compreendeu que o caso estava mais sério que imaginava. Concordando de imediato.

- Oquei, oquei, eu vou, eu vou contigo! – Respondeu apressado Alain.

Neste momento Philippi Boulet já os aguardava no saguão de entrada do Museu, com o carro pronto pra zarpar no sentido de esconder o curador da mostra e principal suspeito do roubo da peça mais importante da exposição de obras de artes do milionário colecionador Pierre François. Assim que foi entregue aos cuidados de amigo Philippi, Gustave apressou o passo e foi procurar o funcionário que havia escutado o telefonema que culminou na provável descoberta dos responsáveis pelo tão requintado roubo.

Depois de ouvi-lo atentamente, solicitou ajuda do Sistema Telefônico de Paris, através da intervenção do Diretor do Louvre, que acabara de ficar sabendo até onde iam os acontecimentos dentro do seu próprio domínio dos quais ignorava completamente. Por seu intermédio autorizava a Operadora de Telefonia, a fazer um minucioso rastreamento nas contas dos telefones do Museu e do celular de Alain Dubreuil, em caráter de urgência, urgentíssima.

Enquanto os acontecimentos prosseguiam, aproveitou para ligar para o Sr. Pierre François pedindo-lhe que fizesse a mesma solicitação à Telefônica, usando do seu prestígio, como forma de reforçar e acelerar o serviço de rastreamento. A resposta não demoraria, em questão de minutos os computadores fariam uma varredura com precisão. Nesse ínterim, Gustave sugeriu que o funcionário se mantivesse atento e se possível o mais oculto que pudesse pelas próximas 48h, o que foi atendido de pronto, reconhecendo que o perigo rondava impiedoso.

Quando receberam os resultados preliminares do rastreamento, descobriram indícios de que as ligações na maioria das vezes partiram de Hong-Kong, revelando a possibilidade de se tratar de uma organização com ramificações ali mesmo em Paris, tipo célula, ou coisa parecida. Um fato se tornou claro, os envolvidos eram de origem chinesa e o contato mais freqüente atendia pelo nome de Piang Chen. Assim que Gustave ficou informado dos primeiros levantamentos, empalideceu momentaneamente e exclamou: - “Santo Deus... A Tian Di Hui - Tríade, a máfia chinesa!...”

Gustave saiu da reunião meio abobalhado e atônito diante da proporção de perigo em que se meteu Alain. – “E agora? Como protegê-lo até a prisão dos mandantes?” Estas palavras zuniam como eco ensurdecedor na sua cabeça. Um princípio de paranóia o remeteu a uma situação quase semelhante ocorrida com ele na Malásia, quando foi investigar o desaparecimento de um grande amigo e parceiro de espionagem encontrado morto na periferia de Kota Bharu vitimado por esquartejamento em condições semelhantes ao de Olivier Maillard. Era a Tríade ou Tian Di Hui, máfia chinesa agindo.

Antes de chegar ao esconderijo onde Philippi Boulet havia levado Alain, estacionou o carro em uma rua movimentada não muito próxima, caminhou por ruas e ruelas procurando complicar sua pista caso alguém estivesse o seguindo. De repente, em um determinado lugar de maneira estudada, saltou rapidamente à esquerda, abrindo em seguida uma porta falsa, contendo na frente um grande anúncio de “Compra-se aves”. Entrou, era uma passagem camuflada que ficava nos fundos de um restaurante muito frequentado. No seu interior havia um porão onde há anos quando precisava o utilizava. Foi este o lugar escolhido para esconder estrategicamente o curador desavisado e ambicioso Alain Dubreuil, um inocente e simplório metido a esperto, que se envolveu com uma organização criminosa experiente, inflexível e por onde passa deixa um rastro de sangue.

Assim que chegou ao aposento onde o seu protegido se escondia sob sua tutela, o encontrou usando o celular conversando entusiasmado com outra pessoa como se tudo estivesse muito bem, o que na realidade os fatos estavam de mal pra pior. Philippi havia saído o que não deveria ter acontecido em hipótese alguma. Gustave possesso com a imagem arrancou o aparelho de sua mão e o esbofeteou com raiva, jogando-o sobre um amontoado de caixas. Momento quando o amigo Philippi escutando os ruídos apareceu assustado. Encontrava-se na sala ao lado se refrescando bebendo água. Sem recriminar o companheiro, reuniu suas forças e cheio de ódio continuou batendo sem tréguas seu protegido, até ser impedido pelo companheiro Philippi, deixando Alain estatelado no chão todo ensanguentado, porém, lúcido. Aproveitando do ensejo começou a forçar esclarecimentos até a última informação, nem que fosse preciso tirar o seu escalpe, tamanho era sua bronca pela imprudência em que se envolveu. Tudo por interesses mesquinhos, na tentativa de ganhar fortuna de maneira vil pela ambição.

Felizmente as investigações apontaram em outra direção depois de uma ferrenha e pressionada conversa o investigado não teve mais como se esquivar e manter a farsa, assumindo sua participação em todos os incidentes, esclarecendo as várias evidências do seu envolvimento, enumerando por acontecimentos até então não esclarecidos, inclusive o atentado que teria como vítima ele, Gustave, nas imediações do ateliê do designer. Descobriu-se também que a valiosa raridade roubada, ainda não havia saído de Paris e que se encontrava em um cofre particular em nome do próprio Alain Dubreuil em outro grande banco da capital francesa.

Entendendo como resolvido às questões de seu interesse que seria descobrir o paradeiro da peça roubada, transferiu o curso das investigações sob a responsabilidade da polícia, onde ficou esclarecido que o mandante se tratava de um importante milionário chinês que desejava a repatriação da peça por questão nacionalista e preservação da cultura do seu País, sendo também quem financiava a ação desconhecendo os rumos que o caso havia tomado pela inexperiência e das imprudências seguidas cometidas por Alain Dubreuil, o que não o isentou também de pagar por seus vários crimes.

Mais uma vez Gustave Berthelot desvendou em poucos dias outro caso intrigado de investigação. Lógico que agradecido pela companhia e assistência de Sthéfhanie Marret ou Yasirah Saleh.

FIM.

Imagens: Internet.