sábado, 19 de setembro de 2009

O Jardim que cantava - Última parte.

Na primeira parte conta-se a história do jardineiro Manoel, que após terminar de ler o livro sobre lendas, o motivou a criar sua própria lenda. O livro também narra a tragetória insatisfeita de um barqueiro em busca do seu futuro e do encontro casual com um enigmático velho cego, que lhe adverte para as surpresas que a vida pode reservar.



Sentindo-se preparado e disponível para seus intuitos, procurou as bordadeiras, expôs seu desejo de transformar aquela área ora abandonada em um belo jardim. Após as considerações, encontrou logo de imediato o apoio entusiasmado das humildes mulheres. Sua atitude iria melhorar sobremaneira o visual da sua casa, além é claro, de trazer um novo clima de bem-estar, um novo alento não só para elas próprias, mas de toda a comuniade, que carecia ver aquele desprezível ambiente transformado, quem sabe até habitado por um belo conto de fadas, ou o nascimento de uma nova lenda como era o sonho pessoal de Manoel.

Estava evidente que o livro que acabara de ler causou-lhe estímulo suficiente para a inciativa. Por outro lado, Manoel possuía um espírito tão evoluído que era notória sua atitude de criar o jardim dos seus sonhos. Vidas distintas também iriam manifestar suas tendências através da sua ação. Os pássaros encontrariam outro lugar para cantar e encantar, e as borboletas o seu paraíso de cores e perfumes.

Antes de iniciar os seus preparativos, idealizou a necessidade de constar no projeto algumas plantas aromáticas indispensáveis, que se encarregariam da defesa natural, evitando o ataque de formigas e/ou outros insetos nocivos. Para esta estratégia não pretendia abrir mão do alecrim, camomila, capuchinho, erva-doce, hortelã, manjericão, sálvia, calêndula e gergelim; plantas ornamentais, como: amor-perfeito, petúnias, antúrios, verbenas, bromélias, palmeiras anãs, gerânios, cravos, rosas, jasmins, grama esmeralda, entre outras.

Desde o primeiro momento em que Manoel iniciou suas pretensões de revitalizar a área e criar o jardim, começou a estabelecer um vínculo de entendimento com as sementes e mudinhas escolhidas com esmero, transmitindo a elas status de estrelas, de importância, de serem únicas em beleza; dizia de suas singularidades, de suas personalidades nobres e prestígios. Também iriam representar com rara beleza e simpatia o que existia de melhor em espécie, além de estarem ajudando a construir um paraíso de amor, envolvente e iluminado pela luz do Criador. Seu tratamento chegava a ser de uma amizade paternal. Quando plantava uma sementinha, dizia àquela pequena vidinha ainda por transmutação a importância da vida.

- Querida sementinha, você agora não passa de um embriãozinho de esperança, logo estará crescida, transformada e bonita, porém não perca sua simplicidade, sabendo que sozinha não passaria de um grãozinho quase sem importância, igual a muitos raminhos esquecidos em algum lugar distante do olhar admirado das pessoas, dos animais. Seria bom jamais esquecer deste detalhe, orgulhando-se de ser escolhida para dar alegria e não para se envaidecer caprichosamente achando-se melhor que as demais.

Para as mudinhas dizia: - Oi mudinha, hoje você não passa de um pedacinho de vida, mas logo será grande e exemplo de beleza e admiração. Seu jeitinho nobre encantará a todos. Seja responsável na sua missão de embelezar e perfumar o ar que todos nós tanto precisamos. Seja querida não apenas pelas suas cores e o formato de suas flores, mas por transmitir nos seus dias de existência, felicidade e agradecimento pelas suas características exclusivas.

Com os pássaros não era diferente. Sempre que apareciam Manoel fazia questão de conversar com cada um, mesmo sem um aparente retorno, agradecia a visita, pedindo-lhes que não se afastassem, dando alegria com os seus cantos sublimes, e se possível convidar outros como eles a estarem presentes, dando às pessoas motivações de altivas mensagens, através do seu trinar, com melodias saborosas.

Quando a primeira borboleta apareceu, exibindo suas cores vibrantes, deu-lhe o nome de princesinha. Sentiu de imediato que aquela frágil criatura, ficara contente com o nome. Acompanhava-o a todos os lugares do jardim. Na medida do possível, pousava no seu ombro amigo, ou num outro lugar bem próximo dele. Fazia questão de movimentar suas asas, abrindo e fechando para que ele pudesse contemplar sua beleza única. Definindo bem no centro de suas pétalas de membranas aladas, o desenho que se assemelhava a um olho, representando o olhar atendo do Pai do céu, acompanhando bem de perto aquele momento indescritível. A tansformação do lugar que seria em pouco tempo o paraíso dos sonhos.

Outro fato notável foi o aparecimento da Fada Encantada da Jardinagem, acompanhada de suas seguidoras assistentes. Fulgurantes luzes semelhantes a flashes estrelados, movimentavam-se de um lugar a outro, feito raios riscando o espaço, como se estivessem inspecionando sua criação. Tal acontecimento supria-lhe de toda energia necessária, bondade e sabedoria suficientes para entender a importância e a empatia de cada espécie sem exceção.

Com as formiguinhas ele pedia apoio no sentido de conservar suas plantinhas sem nenhum prejuízo para suas belezas, conservando-as perfeitinhas, não as destuindo. Elas iriam dar muita alegria a todos que as vissem floridas e belas. Transferindo às pequeninas cortadoras de pinças afiadas, a responsabilidade de ajudar a manter o encanto do lugar que seria mágico e de inspiração triunfante. Com esses diálogos cordiais, Manoel conseguiu estabelecer uma irmandade de cumplicidade com todos os habitantes do jardim encantado; com sua lenda em construção, lenda que logo também seria exemplo de fé para um futuro melhor.

Em pouco tempo já havia concluído o seu espaço florido, sua obra-prima, uma realidade indiscutível que não demorou a se confirmar. Todos os dias impreterivelmente reservavam as manhãs e as tardinhas para os cuidados necessários da sua criação, seja para aguagem, como para as limpezas e podas imprescindíveis. Havia adquirido o dom de conversar com as plantas, aves e insetos, em diálogos longos, proveitosos e permanentes, capazes de esclarecer as particularidades de cada espécie. Quando chegava era recebido com elevada manifestação de carinho. Os pássaros irradiavam com suas virtuosas presenças, melodias alegres cantadas em verdadeira sinfonia poética; plantas e flores no mesmo ritmo formavam um coral de boas-vindas. Até as pessoas que não podiam ver, ou perceber o encanto, sentiam intimamente aquela harmoniosa presença do sobrenatural, comum da alegria incontida.

Tornou-se aos poucos, hábito indispensável das pessoas passarem pelo magnífico jardim criado por Manoel e presenteado com gestos de alta nobreza àquelas mulheres solitárias, criativas e talentosas na sua arte de bordar. Quem dali se aproximava, livrava dos mais enraizados problemas; os adoentados, enfermos e desenganados vislumbravam esperança. Havia até quem dizia se sentir curado dado ao alto grau sensitivo de envolvimento. A notícia dos feitos e situações consideradas impossíveis e que encontravam soluções e respostas positivas, foi se espalhando com tamanha velocidade, que não tardou a se tornar visita obrigatória, e até romaria para quem buscava a cura de suas doenças consideradas incuráveis, ou mesmo do conforto espiritual em busca da felicidade almejada, de certa forma privada para os mais incrédulos. Contudo, ao passar pelo jardim percebiam o sorriso contagiente da vida plena. Da manifestação divina, vindo da fé e da indiscutível presença de bem-estar causada pelo encanto energético das flores coloridas, da beleza e do canto estraordinário das aves. Era o jardim que cantava. O jardim que floria na alma das pessoas.

Manoel maravilhado com sua criação, concluiu espontaneamente que não basta ter apenas um jardim com plantas diferenciadas. É preciso que esse jardim esteja dentro de si, dentro de cada um. Sentir além do perfume das flores, o seu sorriso de felicidade. Compreender que os pássaros não vão a determinado lugar por um mero acaso, ou pelo descanso após longos voos, mas pelo prazer, pela receptividade; as borboletas e as abelhas também não procuram os jardins pelo seu colorido, mas pela sua doce simpatia envolvente, produzida até mesmo pela mais simples plantinha imperceptível, desde que esteja irradiando harmonia, felicidade e que sua beleza não se traduza em uma negativa futilidade, mas, na essência superior do Criador, no seu momento de resplendor criativo. Onde até mesmo as formigas e outros insetos nocivos pedem licença para contemplar sua magnífica magia. Todo jardim feito e cuidado com carinho tem as bênçãos da Fada Encantada da Jardinagem, que tudo faz para imperar na vida dos seres, o amor ao próximo de maneira espontânea e atitude de caráter superlativo.

Fotos: Internet, Google Image