domingo, 6 de setembro de 2009

Na trilha do lirismo


Continuando com as publicações dos poemas da poeta e desenhista Neli Vieira

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Conta-nos a história da vida, que entre o bem e o mal, o coração deixa fluir o de mais belo na essência da paixão e na alegria sem limites. Onde a felicidade pode ser encontrada no sabor do mel que a natureza humana mesmo produz quando experimenta o sorriso estampado no espelho da alma. Quando isto acontece, o melhor que se faz é bailar ao som dos violinos da esperança; acompanhados pelas flautas do amor; compondo com a harpa da conquista; a batida na percussão do coração em correntes pelas veias o sangue da existência, e o piano da conquista, dedilhado pelas mãos sábias do maestro dos sonhos, tocando a eloquente canção da vitória. Embalados pela harmonia de passos firmes, embora flutuando no compasso da liberdade. Esta é a dança que a vida reserva no salão da ternura, decorado pelo glacê da simplicidade.



A voz que dança


Quero um corpo

para dançar

celebrar a vida

rodopiar

sentir a música

ver Deus

dentro de Deus

fazendo amor


Quero um rito

um transe

um êxtase

para fluir, libertar

a mulher, a Lilith

este arquipélago

de essências

e ópio

dar um salto

além do agora

com fúria, belezas e risos

assim

nascer e morrer

tal qual

uma flecha de luz



Quero um corpo

para dançar, dançar

rodopiar

enroscar-me

ser serpente

derramar-me

feito - chuva

nas bocas

nos corpos

ao som dos tambores.



Quero um sonho

um beijo louco

na boca de Deus

que chega com fúria

rodopia e dança comigo

nas nuvens

um príncipe do céu

viajante alado

com asas

de gigante albatroz.



Quero uma dança eterna

muitas vozes

e vida envolta

numa reblina azul

onde raios de sol

brinquem

o tempo todo.



(Poema publicado conforme original)

Poema publicado no Jornal A Voz de Mauá, no dia 22 de agosto de 2008.


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Nota-se com naturalidade, cada momento do ser humano de não se satisfazer com a mesmice de que esteja se submetendo. Ainda que a paciência tente enganar, a realidade faz rebelar a ânsia recessária de mudança, onde basta um pingo de dúvida para fazer transbordar o limite do represamento da angústia. Chuta-se o balde da intolerância e da falta de perspectiva, e eleva o fulgurante desejo do crescimento interior; dando um basta na amargura, quebrando o elo da tristeza, livrando-se da corrente que aprisiona a alegria contagiante, fazendo correr pelas veredas da estepe verdejante, florida e ensolarada o sorriso do triunfo.






Revolta


As palavras

gritam em minha mente.

O suor

corre pelo rosto

com pressa

de tocar o chão.



Por Deus!

Calem as palavras

apaguem a lua

fechem a noite

quero dormir.



Noto o descontentamento

da primavera.

Hoje, chover

é um mau hábito.

O sol a terra o tempo

estão doentes.



Calem as letras!



Impeçam o nascer do dia

as novas guerras

vêm de velhas discórdias.

Não posso sorrir

enquanto meninos inocentes

dormem em camas de lama

e vestem sangue.

Enquanto homens falam

sem nada dizer.

Tentando me fazer crer

que são pontos do destino

viver - matar - morrer.



Cretinos! Dementes!

Por favor!

Calem as palavras



Quero voltar

Para antes do ventre.



Poema publicado no Jornal A Voz de Mauá, no dia 22 de setembro de 2008

Diretor: Fausto Piedade

Impressão: Rua Muniz de Souza, 219/223 - São Paulo-SP