sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Ambição, o destino de uma raridade.



É do conhecimento histórico-cultural das artes, que através do comércio emergente pelas Companhias das Índias no século XVI, preciosidades foram possíveis chegarem à Europa. Poucos países naquela época tinham acesso a estes tesouros de refinados gostos, raramente encontrados em destacadas casas especializadas. Pierre François orgulhava-se de ser um destes expoentes proprietários de antiguidades a possuir no seu acervo raridades tão fascinantes, que remetia a um período consagrado por várias lutas internas entre clãs. O seu vaso de porcelana fina e rara, pintado com desenhos em ouro e decorado com pedras preciosas, entre diamantes, rubis e esmeraldas, retratando fragmentos da dinastia Ming do século XIV, traduzia este orgulho para qualquer célebre colecionador. Lógico que possuía outras raridades de períodos mais remotos, mas o seu vaso era sim o seu maior orgulho como colecionador de destaque entre os vários outros existentes no planeta.

Durante anos sua preciosa peça ficava depositada no cofre particular do seu Placement de la Financière Banque de Paris, protegido com recursos de segurança de última geração. Vários convites lhes foram feitos para expor sua raridade, sendo todos veementes negados. Não pretendia expor em público sua valiosa obra, única no mundo e feita sob encomenda pelo Rei Zong Yang Zhao, para presentear sua amada esposa Nay-Ching enaltecendo suas últimas conquistas. Os amigos, estudiosos e colecionadores insistiam para que mostrasse seu valioso patrimônio histórico pelo menos para uns poucos interessados. Como já se encontrava próximo de completar 80 anos e os filhos pouco se interessavam pelo seu hobby milionário, resolveu atender a um destes pedidos irrecusáveis. Tratava-se de não menos que o Sheik Al-Kalihah da Arábia Saudita, velho amigo e também colecionador. O lugar escolhido foi o Museu do Louvre de Paris, conceituado pela sua importância internacional e segurança inviolável. Colecionadores de todo o planeta ficaram eufóricos com a confirmação. Além de suas várias obras entre pinturas, artesanato e esculturas, estaria também exposto o seu valioso vaso chinês. Todas as peças também possuíam seguros totais, fato raro para este tipo de negócio, mas nem por isto o convencia. Raramente uma seguradora se dispunha a aceitar este tipo de transação, principalmente em se tratando de raridades tão valiosas e na sua maioria única, e motivo de cobiça não só para colecionadores, mas também por aventureiros ladrões, que arriscariam o próprio pescoço para tê-las nas mãos. O comércio das obras não seria fácil pelo seu caráter de exclusividade, mas havia sempre um fissionado por artes que não mediria esforços para adquirir tais raridades, mesmo sabendo que não seria possível exibi-las abertamente.

A exposição havia alcançado projeção em todos os setores das artes e para o evento o milionário colecionador teria se cercado de todos os cuidados imprescindíveis. Suas peças seriam colocadas com algumas horas de antecedência à visitação, transportadas do Banco até o museu por um rigoroso esquema de segurança. Primeiramente o transporte seria feito por helicóptero para evitar o trânsito ou algum imprevisto no transporte.

Até as peças saírem do seu banco, Pierre fez questão de acompanhar de perto todo o processo. As pessoas envolvidas foram escolhidas observando a criterioso processo de seleção, inclusive, o piloto da aeronave era da inteira confiança do seu genro Jean-Mari, que embora não tivessem bom relacionamento familiar com o colecionador era o esposo de sua filha mais velha e chefe do Departamento de Transportes Aéreo do seu conglomerado de empresas, inclusive do banco.

Eventos desta natureza costumam atrair as personalidades mais importantes do universo das artes e curiosos ilustres ávidos por um flash dos noticiários. E Pierre era uma destas pessoas muito procuradas naquele momento para entrevistas.

- Senhor Pierre, Senhor Pierre! Aqui, sou Monique da TV France ao vivo! – Chamava insistentemente a repórter, tentando arrancar algumas palavras do ilustre colecionador.

- Por favor, Senhor Pierre, só um minutinho. – Insistia a repórter.

- Senhor Pierre, qual é a sua expectativa para esta exposição, depois de anos sem mostrar suas valiosas peças? – Com dificuldade conseguiu fazer sua pergunta, a jovem repórter.

- Muito boa! Espero que não seja a última sob os meus cuidados. – Esclareceu Pierre François, temeroso por outra oportunidade, preocupado com sua idade.

- Senhor Pierre, é do conhecimento de todos que o mundo estará atento para a abertura da exposição. O senhor também está ansioso? Ou preocupado com a segurança dos objetos expostos? – Perguntou a repórter.

- Ansioso sim, preocupado não! Todos os cuidados possíveis, e acredito até impossíveis foram tomados. – Respondeu confiante Pierre François.
- Os colecionadores e interessados poderão oferecer propostas para aquisição de alguma das suas peças? Ou é somente uma exposição memorável de contemplação da valorosa coleção? – Perguntou a repórter, focando outras possibilidades de negócios.

- Não serão permitidas ofertas, já que nada está à venda. Trata-se apenas de uma exposição de visualização. Nem fotos serão permitidas. – Disse Pierre François.

- Como ficou estipulado apenas dois dias de apresentação ao público, assim mesmo para pessoas credenciadas ou convidados especiais, existe a possibilidade de estender esse prazo para mais dias? – Perguntou a repórter.

- Não, infelizmente não! Não haverá outra oportunidade, pelo menos por agora. Serão somente os dois dias confirmados. – Cansado das perguntas que muito o incomodava, além dos flashes de câmeras fotográficas e luzes dos refletores de filmagens, Pierre se despediu saindo escoltado por seus seguranças.

Enquanto os privilegiados visitantes autorizados se admiravam com cada raridade, Antoine Débiton um expert avaliador e reconhecido conhecedor do patrimônio de artes do amigo Pierre François, observando sem grandes pretensões o vaso, notou alguns detalhes que lhe chamaram a atenção. Parecia não acreditar, mas algo não estava certo com a peça. Mesmo sabendo que todos os cuidados para que nada de ruim acontecesse, envolvendo inclusive cuidados especiais por se tratar de uma raridade, apenas algumas poucas fotos foram divulgadas em importantes enciclopédias até aquele momento, o que a tornava ainda mais difícil de falsificação, ainda assim, tudo levava a crer que o objeto exposto não passava de uma réplica. Imediatamente procurou o amigo e participou suas dúvidas. Pierre François espantou-se, chegando quase a ter um colapso, sendo amparado de imediato. Seria improvável a princípio tal conclusão, principalmente em se tratando daquele objeto que a comunidade especializada se curvava. Antoine Débiton se orgulhava de ser um dos poucos que há muito tempo a acompanhava de perto por ser da inteira confiança do seu colecionador.

Aconselhado a manter maior discrição possível, Pierre François seguiu em direção do seu cobiçado tesouro. Não demorou muito para constatar a falta de autenticidade do objeto de desejo para muitos. Quase foi a loucura, contudo, conseguiu minimizar sua expressão de incredulidade. Em seguida contendo o grau de desespero, procurou o curador da mostra Sr. Alain Dubreuil e relatou o acontecido, sendo aconselhado a manter a exposição sem nenhum tipo de alarde e aplicar vigilância triplicada. De imediato iria iniciar uma investigação sob sigilo absoluto, uma cópia da relação dos visitantes foi solicitada. Sem perder tempo o milionário colecionador telefonou para Gustave Berthelot renomado investigador, também seu amigo.

Várias perguntas começaram a borbulhar na mente dos envolvidos, dentre elas, duas eram evidentes: como poderia? Como conseguiram? A visitação transcorria normalmente, tudo levando a crer que somente aqueles que constataram a fraude estavam cientes do acontecimento. Com dificuldade Pierre François conseguiu permanecer no local mais alguns minutos, retornando à sua residência alegando cansaço e indisposição, entretanto, somente ele sabia da tristeza e decepção que alojara no seu coração diante do ocorrido. Tudo iria fazer para resgatar sua preciosidade custe o que custasse. Não economizaria nada nesse sentido.

Assim que Pierre François chegou à sua residência sob a orientação dos acompanhantes, dentre eles Antoine Débiton, encaminhou-se direto para o seu escritório. Em menos de uma hora o aguardado investigador Gustave Berthelot já estava em sua companhia. Vários assuntos foram tratados relativos ao incidente. Gustave Berthelot não perdeu tempo:

- Senhor Pierre, quantas vezes esteve com a peça roubada nos últimos dias? – Perguntou Gustave Berthelot, procurando se informar de alguns detalhes que pudessem clarear os preliminares das investigações.

- Nos últimos quatro dias estive por várias vezes, não só para ver o vaso em questão como as demais peças que selecionei para a exposição. – Esclareceu Pierre à pergunta.

- Pode esclarecer quais os procedimentos usados normalmente para ter acesso às suas preciosidades? – Arguiu novamente o investigador.

- Claro! No meu Banco, existe o cofre principal onde são guardadas grandes somas. Este cofre tem controle automático de tempo/hora para ser aberto. Portanto somente às 8h impreterivelmente é aberto. Sob hipótese alguma se consegue ter acesso ao seu interior. Não vou descrever o grau de segurança de sua porta e do interior do cobre porque é desnecessário e por outro lado é um segredo de garantias. Sempre que entro faço antes uma cuidadosa observação de praxe. – Esclareceu o banqueiro.
- Sendo o cofre principal aberto somente a partir das 8h, significa que está deixando claro que seu tesouro em artes fica guardado nesse cofre? – Novamente questionou o investigador.

- É verdade, as peças de artes mais raras e que carecem de cuidados especiais ficam guardadas nesse cofre, só que em outro compartimento que também se trata de um cofre, dentro deste de segurança máxima. Assim, para eu ter acesso às minhas obras tenho primeiro que entrar no cofre maior e depois abrir o outro que não é tão pequeno, mas exclusivo das peças. – Esclareceu Pierre.

- Qual é a forma utilizada para abrir esse cofre das artes? – Interessou-se o investigador.

- Para abrir este cofre necessita-se de um código senha de números digitais. Não coloquei o processo de identificação por leitura ótica através do contato com as mãos por achar desnecessário, já que somente eu tenho acesso. Inclusive no cofre de numerários, ouro, jóias da família e documentos importantes do banco, como de costume somente eu e o tesoureiro podemos entrar. Ninguém mais. – Esclareceu mais uma vez o banqueiro.

- E nestes últimos dias que antecederam a exposição, quantas vezes o senhor esteve com as peças escolhidas para o evento? – Perguntou o investigador.
Enquanto os dois conversavam, Antoine Débiton em silêncio acompanhava o questionamento que iria ajudar a montar o quebra-cabeça para desvendar alguns indícios e ser possível dar prosseguimento às investigações.

- Ninguém mais o acompanhou nesse processo? – Interessou-se Gustave Berthelot.

- Não, ninguém! Estive sempre só. – Esclareceu mais uma vez o colecionador.
- Significa que foi o senhor quem embalou todas as peças, ou estou enganado? – Perguntou o investigador curioso.

- Sim, somente eu me encarreguei de todos os pormenores de preparação dos objetos. Apenas as embalagens foram enviadas pelo Museu, por fazer parte dos procedimentos habituais. É necessário conter nas caixas a marca do expositor. Isto tem origem de há muito tempo. Acho que faz muito sentido. Significa organização. – Esclareceu mais uma vez o colecionador.

- E hoje antes de serem transportadas, quantas vezes o senhor esteve em contato com o seu patrimônio selecionado para a exposição? – Interessou-se o investigador, tentando juntar as pedras do mosaico que se apresentava pela frente.
- Hoje eu estive com elas, quatro vezes. A primeira quando se abriu o cofre forte, aproximei-me das caixas e verifiquei se tudo estava bem. Isto numa atitude rápida sem preocupações adicionais. Acho que foi mais por força do hábito, nada mais. – Explicou Pierre François.

- Entendo. E as outras três vezes? – Seguiu com suas perguntas o experiente investigador.

- Outra, quando fomos verificar o volume das caixas para melhor acomodação na aeronave que faria o transporte. Desta vez me acompanhava Jean-Mari que iria orientar o piloto. – Esclareceu Pierre François.

- A penúltima, foi uma entrada técnica. Seria necessário isolar a parte exclusiva do banco, onde ficam depositados todos os depósitos e documentos pertinentes a instituição. – Declarou Pierre, esclarecendo.

- E por último, quando foram recolhidas as caixas. Nesse momento até o sistema de segurança armada do banco estava aposto, com o auxilio de vários homens bem armados. Novamente respondeu o banqueiro.

Após a longa conversa esclarecedora, Gustave Berthelot se despediu sem muita explicação, recomendando todo sigilo sobre a conversa e que não deveria em hipótese alguma revelar o descobrimento da fraude, para não alertar os envolvidos no roubo. Mais tranqüilo diante das perspectivas e votos de confiança nas investigações, o milionário colecionador se acalmou e manteve a serenidade de antes.

Não deixe de conferir a continuação desta aventura de espionagem ainda nesta semana. Novas investidas, novas descobertas, novas ações estarão envolvendo esta trama de contínuas buscas, onde a experiência e a astúcia do profissional enganjado a esse tipo de desafio faz a diferença.

Imagens: Internet

sábado, 14 de novembro de 2009

O efeito mágico de um sorriso.








Este texto me foi enviado através de e-mail por um amigo. Gostei tanto deste exemplo de socialização que achei por bem dividir com você. Está sendo publicado na íntegra, nem uma virgula sequer foi mudada, preservando o conteúdo estético e gramatical do autor. Devo esclarecer ainda que o seu autor é desconhecido.



Esta é uma bela história e é também uma história real, por favor, leia-a até o fim! (Após o final da história, alguns fatos bastante interessantes!)Sou mãe de três crianças (14, 12 e 3 anos) e recentemente terminei a minha faculdade. A última aula que assisti foi de sociologia...

O professor dava as aulas de uma maneira inspiradora, de uma maneira que eu gostaria que todos os seres humanos também pudessem ser.

O último projeto do curso era simplesmente chamado "Sorrir"...

A classe foi orientada a sair e sorrir para três estranhos e documentar suas reações...Sou uma pessoa bastante amigável e normalmente sorrio para todos e digo oi de qualquer forma. Então, achei que isto seria muito tranquilo para mim...

Após o trabalho ser passado para nós, fui com meu marido e o mais novo de meus filhos numa manhã fria de Março ao McDonald's.

Foi apenas uma maneira de passarmos um tempo agradável com o nosso filho...

Estávamos esperando na fila para sermos atendidos, quando de repente todos a nosso redor começaram a ir para trás, e então o meu marido também fez o mesmo...

Não me movi um centímetro...

Um sentimento arrebatador de pânico tomou conta de mim, e me virei para ver a razão pela qual todos se afastaram...

Quando me virei, senti um cheiro muito forte de uma pessoa que não toma banho há muitos dias, e lá estava na fila dois pobres sem-teto.

Quando eu olhei ao pobre coitado, próximo a mim, ele estava "sorrindo"...

Seus olhos azuis estavam cheios da Luz de Deus, pois ele estava buscando apenas aceitação...

Ele disse, Bom dia!, enquanto contava as poucas moedas que ele tinha amealhado...

O segundo homem tremia suas mãos, e ficou atrás de seu amigo...

Eu percebi que o segundo homem tinha problemas mentais e o senhor de olhos azuis era sua salvação...

Eu segurei minhas lágrimas, enquanto estava lá, parada, olhando para os dois...

A jovem mulher no balcão perguntou-os o que eles queriam...

Ele disse, "Café já está bom, por favor...", pois era tudo o que eles podiam comprar com as poucas moedas que possuiam... (Se eles quisessem apenas se sentar no restaurante para se esquentar naquela fria manhã de março, deveriam comprar algo. Ele apenas queria se esquentar)...

Então eu realmente sucumbi àquele momento, quase abraçando o pequeno senhor de olhos azuis...

Foi aí que notei que todos os olhos no restaurante estavam sobre mim, julgando cada pequena ação minha...

Eu sorri e pedi à moça no balcão que me desse mais duas refeições de café da manhã em uma bandeja separada...

Então, olhei em volta e vi a mesa em que os dois homens se sentaram para descansar...

Coloquei a bandeja na mesa e coloquei minha mão sobre a mão do senhor de olhos azuis...

Ele olhou para mim, com lágrimas nos olhos e me disse, "Obrigado!!" Eu me inclinei, acariciei sua mão e disse "Não fui eu quem fiz isto por você, Deus está aqui trabalhando através de mim para dar a você esperança!!" Comecei a chorar enquanto me afastava deles para sentar com meu marido e meu filho... Quando eu me sentei, meu marido sorriu para mim e me disse, "Esta é a razão pela qual Deus me deu você, querida, para que eu pudesse ter esperança!!"...

Seguramos nossas mãos por um momento, e sabíamos que pudemos dar aos outros hoje algo pois Deus nos tem dado muito....

Nós não vamos muito à Igreja, porém acreditamos em Deus...

Aquele dia, me foi mostrada a Luz do Doce Amor de Deus...Retornei à aula na faculdade, na última noite de aula, com esta história em minhas mãos. Eu entreguei "meu projeto" ao professor e ele o leu...

E então, ele me perguntou: "Posso dividir isto com a classe?" Eu consenti enquanto ele chamava a atenção da classe para o assunto...

Ele começou a ler o projeto para a classe e aí percebi que como seres humanos e como partes de Deus nós dividimos esta necessidade de curarmos pessoas e de sermos curados...

Do meu jeito, eu consegui tocar algumas pessoas no McDonald's, meu filho e o professor, e cada alma que dividia a classe comigo na última noite que passei como estudante universitária...

Eu me graduei com uma das maiores lições que certamente aprenderei.

Fotos: Internet Fotosearch

Autor: Desconhecido.


quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Vasculhando a estante - nº 05

Urgente!

Esta informação já deveria ter sido divulgada em caráter de urgentíssimo!

Uma bela biblioteca digital, desenvolvida em software livre, mas que está prestes a ser desativada por falta de acessos. Imaginem um lugar onde você pode gratuitamente:

a) - Ver as grandes pinturas de Leonardo Da Vinci;
b) - Escutar músicas em MP3 de alta qualidade;
c) - Ler obras de Machado de Assis, ou a Divina Comédia;
d) - Ter acesso às melhores historinhas infantis e vídeos da TV Escola e muito mais... Este lugar existe!

O Ministério da Educação disponibiliza tudo isto, basta acessar o site:


Só de literatura portuguesa são 732 obras.

Estamos em vias de perder tudo isto, pois vão desativar o projeto por desuso, já que o número de acessos ser muito pequeno. Vamos tentar reverter esta situação, divulgando e incentivando amigos, parentes e conhecidos, a utilizarem essa fantástica ferramenta de disseminação da cultura e do gosto pela leitura.

Texto me enviado por e-mail.
Foto: Fotosearch

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Máquina de escrever


A gaúcha Letícia Wierzchowski faz sucesso com A Casa das Sete Mulheres e lança sua sexta obra em quatro anos de carreira.

A gaúcha Leticia Wierzchowski, de 30 anos, é um fato novo na literatura brasileira. Há muitos anos não se via ficcionista jovem e desconhecida atingir o alto das listas de vendagem. Conseguiu a façanha com o romance A Casa das Sete Mulheres. O livro narra a Revolução Farroupilha (1835 - 1845) pelo ângulo feminino. Representa, também um caso exemplar de construção do sucesso em várias frentes, a começar pela televisão. Estourou por causa da audiência da série homônima da Globo, que estreou em janeiro e atinge, até agora, a média de audiência de 30 pontos do Ibope. Lançado em abril de 2002, o livro já havia esgotado três edições em oito meses. Com a série, foram-se outras três em menos de um mês, num total de 20 mil exemplares.

Leticia aproveita e lança a novela O Pintor Que Escrevia, sexto livro de ficção em quatro anos de carreira, em torno de um caso incestuoso. Finalizou, ainda, um romance, a sair até o fim do ano, sobre um malandro no submundo carioca dos anos 50. Mas há algo além do êxito a partir da telinha. Pela primeira vez no Brasil, um livro foi concebido para virar imagem. É o que os americanos chamam de tie-in, história projetada para se realizar na tela. Antes de a obra ter sido concluída, em nove meses, em junho de 2001, uma sinopse já circulava na Globo.

"Tudo ocorreu como um conto de fadas", comenta a agente literária Lucia Riff. Ela foi responsável pela mudança de editora de Leticia em 2000, da média L&PM para a grande Record, e por a história ter chagado à Globo. A agente levou a edição a Maria Adelaide Amaral, escritora que adapta histórias para as séries da emissora. Ela adorou. "Não me lembro de nada igual", diz a editora Luciana Villas-Boas, da Record. Quando começou a trabalhar nos originais, pensava que o futuro de Leticia seria brilhante, em dez anos. "Ela tem apelo audiovisual e teve sorte de ser lida por gente influente", diz. Luciana acha que a autora indica "mudança no mercado, pois ajuda a aumentar o público e a amadurecer a indústria, capaz de produzir autores vendáveis de ficção, não apenas de auto-ajuda". A editora está feliz por ter forjado o que ela donomina "a Rosa-munde Pilcher brasileira". Explica que o texto romântico de Leticia seduz o público feminino de modo parecido ao da escritora inglesa, especialista em destilar conflitos lacrimejantes em ambientes silvestres. Ambas vendem como feno. Mas há distinções. Se Rosa-munde reciclou o "romance para moças", Leticia prende-se à tradição brasileira. Lembra Rachel de Queiroz em seus anos sentimentais e dá um toque feminino à literatura gauchesca.

A crítica culta, pelo menos a do Sul, se rendeu ao charme da filha da terra, depois de um breve surto de ciumeira. Leticia sofreu ataques e se magoou. Acusaram-na de "modorrenta" e de profanar o túmulo de Erico Verissimo, autor de O Tempo e o Vento. Para fugir do assédio, passou janeiro em Punta del Este. De lá, assistiu, divertida, à série. "As cenas de sexo não têm a ver com o livro, que trata de moças vigiadas de 1830. Mas não posso reclamar, posso?" Ela se descreve como "contadora de histórias com cumpulsão de escrever". E arremata: "Não quero conquistar a crítica, mas arrancar o leitor do cotidiano e levá-lo à aventura". Filha de um incorporador imobiliário, morou numa casa de quatro mulheres (é a mais velha de três irmãs), leu Gabriel Garcia Márquez e não pensava em ser escritora. Trabalhou com o pai, desenhava bem e montou uma confecção. "Cursei arquitetura, mas desisti para escrever." A revelação se confirmou na Oficina de Criação Literária, do escritor Luiz Antonio de Assis Brasil. "Quando Leticia concluiu o curso, em 1997, tinha quatro romances prontos", entusiasma-se o professor. "Nunca vi alguém com tamanha produtividade. É um Balzac de saias."
Um dos livros saídos do curso foi o romance fantástico O Anjo e o Resto de Nós, com o qual estreou em 1998. Desde então, produz uma média de duas obras anuais. A fecundidade levou-a a ultrapassar seu padrinho literário, Tabajara Ruas, cunhado de sua tia, autor de seis livros. Ela se inspirou no romance Os Varões Assinalados (1985), de Ruas, para contar sua versão da Guerra dos Farrapos. "Ela tem talento e só lhe falta cinzelar o estilo", diz Ruas. Para o crítico Luis Augusto Fischer, Leticia é um fenômeno. "É capaz de criar um épico pré-colombiano em mais de 1 000 páginas durante uma viagem de apenas uma hora!", garante. O poeta Fabrício Carpinejar pensa que A Casa das Sete Mulheres consiste na "súmula de uma narrativa palavrosa sem densidade narrativa". Sugere, porém, que "vele ler sua obra porque ela supera com doçura os dilemas bélicos da literatura gaúcha, além do que a ler é melhor do que sentir inveja de sua personalidade literária".

Dona de uma beleza digna das heroínas que descreve, Leticia leva uma vida ao avesso das fantasias que põe no computador. Casada com o publicitário Marcelo Pires, tem um filho de 1 ano, João, e mora em Porto Alegre. "Minha vida é comum e quase destituída de histórias. Por isso, gosto de inventá-las."

Texto extraído da revista Época de 3 de fevereiro de 2003, escrito por Luís Antônio Giron.
Fotos: revista Época e Veja

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Adiós, Neruda


Poeta chileno não serve mais nem para arranjar namorada.

Sabe aquele Neruda que você me tomou - e nunca leu? Pode ficar com ele. O tempo mostrou que o chileno Pablo Neruda foi um poeta interessante, mas não um dos maiores da língua espanhola. Atingiu cedo o auge, com Residência na Terra (1925 - 1931), mas nas outras 7 000 páginas que se gabava e ter escrito mais diluiu do que refinou esse êxito. Tratava-se também de uma personalidade notável, só que pelo narcisismo e pelo dogmatismo político. Escreveu que Stalin era "mais sábio que todos os homens juntos". Jamais aceitou que o assassinato de milhões pela ditadura soviética pudesse ter algo de criminoso. Assim, os 25 anos da morte de Neruda, celebrados neste dia 23 de setembro de 1998, não são motivo para entusiasmo excessivo nem para que se perca muito tempo com os Cadernos de Temuco que a Bertrand Brasil lança agora (tradução de Thiago de Mello; 266 páginas; 30 reais). Os cadernos foram preenchidos por um Neruda "teen", entre os anos de 1919 a 1920. Ficaram na gaveta por décadas e só há dois anos foram redescobertos e publicados. Há no livro versos que antecipam temas desenvolvidos mais tarde na lírica do poeta, como o erotismo e o fascínio pela natureza. Mas é só. Talvez pesquisadores chilenos - que têm mesmo a obrigação de investigar uma de suas figuras literárias centrais - encontrem valores outros na obra. Para os demais, esses Cadernos de Temuco não servem nem para arranjar namorada. Os versos de Neruda, que faziam suspirar as estagiárias de pernas peludas do anos 70, não comovem mais as moças de hoje.

Texto extraído da revista Veja de 23 de setembro de 1998, escrito por Carlos Graieb.
Fotos: Internet.