quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Valentes e corajosos homens do mar - Final.











Na parte anterior capitão Moribundo depois de enfrentar desafios perigosos, aproxima-se dos seus desafetos instalando-se provisoriamente na França.
Torna-se influente empresário no setor de perfumaria e em seguida
chega à sua terra natal
como um Don Juan e rico empreendedor.
É o momento de articular suas ações.



Com sua visão estudada e bem elaborada de um experiente investidor, transformou um velho casarão sem muita utilidade, numa vistosa e ampla loja de perfumes com todos os requintes necessários capaz de atrair a nobreza inglesa, aliando-se a estes pormenores o seu incontestável charme de um galã e conquistador incorrigível. Não demorou muito estava frequentando às suntuosas e concorridas festas da corte. Os seus produtos foram rapidamente conquistando destaque a ponto de se transformarem luxo de consumo para todas as ricas e influentes damas da sociedade. Na mesma proporção em que empregava com sucesso o seu admirável fascínio de "bon-vivant" e empresário. Beneficiado pela obra do destino conheceu Mary Christine Lemmon, 22 anos, filha caçula de George Lemmon, justamente o seu principal alvo da vingança. Aquele que o incriminou para subtrair fortunas em ouro, pedras preciosas e especiarias do seu Rei.

A partir do momento em que ficou conhecendo a jovem Mary Christine, além dos reveses que a vida proporciona, só restava esperar e dar corda à imaginação fértil de que era especialista; infiltrar na intimidade da família, apronfundar suas atenções nas ações do seu patriarca e descobrir até onde se estendia seus negócios e seus compromissos financeiros. Fazendo-se valer de seus refinados gestos de elegante conquistador e atencioso "gentleman", não demoraria se tornar pessoa de confiança do seu alvo: o desafeto George Lemmon. O desfecho e a consolidação da sua vingança provando sua inocência e de seus amigos seria uma questão de tempo e oportunidade.

Enquanto isto Espantalho e seus amigos curtiam suas férias, em verdadeiras festanças no litoral frances. Para os momentos de descanso escolhiam impreterivelmente o conforto nos aconchegantes aposentos a bordo do inigualável Tigre Veloz. Entretanto, nas ocasiões de comemorações mais intensas e ousadas procuravam as inquietantes tabernas e casas de mulheres onde conseguiam afogar suas solidões e marasmos, através do consumo desenfreado das refrescantes, ora calientes bebidas da região, contudo, sempre bem dispostos aguardando o chamado do seu líder. Estavam protegidos como viajantes em busca de negócios e de prazer pelo continente europeu.

Charles inteligentemente infiltrado nos bastidores da burguesia e dos negócios inglês é informado de que um grande e precioso carregamento contendo finíssimas peças de sedas, riquezas em porcelanas e pedraria finas, principalmente de jade, estava para sair da China com destino à Inglaterra, enviou um mensageiro levando consigo e com urgência um recado codificado até aos seus corajosos companheiros, informando-lhes da necessidade de interceptar em águas internacionais do Pacífico o navio Guardian que navegava com bandeira holandesa. Fazer seu comandante prisioneiro, libertar a tripulação em improvisadas chalupas, saquear a valiosa carga, afundar a embarcação e se dirigirem rapidamente à Inglaterra.

Assim que tomou conhecimento da mensagem a tripulação ansiosa por novos desafios, pôs-se a caminho contente por voltar à ação. Todos estavam se sentindo desgastados e irritados pelo ostracismo a que submetiam. Até alcançar o ponto ideal do cargueiro em vista, seriam pelo menos três semanas, ainda assim teria que se fazer um estudo pormenorizado para descobrir em que curso estaria navegando, verificar possibilidades e análises detalhadas da melhor abordagem. Não poderiam falhar, estava naquela embarcação à chave principal que abriria as portas para o futuro, proporcionando-lhes toda tranquilidade desejada, além de uma vida farta, dígna somente dos ricos. Aí sim, poderiam dizer que cumpriram realmente com suas missões.

Havia acabado de dobrar o Cabo da Boa Esperança, também conhecido como Cabo das Tormentas quando por uma incrível ironia o mar ficou bravio, manifestação comum para todos os navegantes daquela área. Preocupados abaixaram as velas a meio mastro navegando com extrema cautela. Afastaram um pouco da costa para evitar qualquer arrebentação. Estavam numa zona repleta de perigosas elevações rochosas. Umas possíveis de serem vistas com mais facilidade por sobressaírem sobre as ondas, outras ficavam encobertas pelas águas e diante daquela situação de agitação do mar o perigo seria iminente. Cuidadosos faziam inúmeros cálculos de probabilidades. Qualquer desvio perderia a oportunidade milionária.

Após outros dois dias de constantes preocupações, ouviram-se gritos de alerta vindos do mastro de observação. Todos viraram em direção do horizonte na espera e divisar a embarcação que mais se assemelhava a um ponto distante no infinito balançando suas velas. Não tardaria seria possível identificar sua origem por intermédio da sua bandeira e suas características de cargueiro. Foram momentos de ansiedade e tensão. Os homens que seriam os responsáveis pelos canhões providenciaram todo o necessário para uma vitoriosa contenda, os demais com suas armas prontas e vistoriadas também aguardavam impacientes. Inclusive foram instaladas cordas sobressalentes em vários pontos dos mastros e cordames para em caso de invasão pudessem ser transportados direto de uma embarcação à outra pelo ar.

Comprovado tratar-se do Guardian, Tigre Veloz comandado por Espantalho fez uma manobra evasiva, numa demonstração de que estava evitando qualquer aproximação com o navio em curso e tranquilizar a atenção da tripulação adversária, para no momento exato içar totalmente as velas, estender a temida bandeira e empreender velocidade máxima, não permitindo qualquer possibilidade de fuga do inimigo. A ocasião lhes favorecia com ventos fortes e o galeão em questão carregado e pesado, facilitaria para que tudo ocorresse como o planejado. E foi o que aconteceu. O resultado não poderia ter sido melhor, as baixas foram mínimas, assim mesmo somente do lado rival. Aqueles que sobreviveram se renderam e o capitão capturado foi mantido como prisioneiro, conforme determinou Charles Grahann. Concluído o saque da carga, livraram-se dos prisioneiros atirando-os ao mar nas chalupas improvisadas com materiais retirados do próprio navio abatido e depois o afundaram.

Passados algumas semanas em que enviou a mensagem, Claude Fontaine, acreditando na sua experiência de homem do mar e de ter calculado as possibilidades de tudo ter ocorrido como era o esperado, procurou o juiz Richardson, respeitado magistrado do reino. Depois de longa conversa e utilizando-se de muito tato e ponderações, conseguiu convencer o merintíssimo a atender ao seu pedido.

- Merintíssimo está chegando a qualquer dia ou hora, no porto principal, trazido por pessoas de minha confiança um homem a quem gostaria que o senhor acompanhasse o seu depoimento sem se apresentar, ou deixar-se ser visto. De prferência acompanhado de outras autoridades como o senhor. - Explicou Claude Fontaine.

- Mas o que significa isto? - Perguntou admirado e meio confuso o magistrado.

- Não se preocupe, acontece que esse homem é responsável por crimes bárbaros e deploráveis, cumprindo ordens de pessoas influentes do reino e da sociedade. - Esclareceu Claude Fontaine.

- Você tem noção do que está me propondo e da gravidade que isto pode gerar, efetuando uma prisão indevida e sem mandato judicial? - Advertiu o magistrado.

- Tem alguma relação com os seus negócios? - Questionou curioso o preocupado juiz.

- Não, não tem. Mas tem muito a ver com o País. - Respondeu seguro de suas convicções o elegante empresário Claude Fontaine.

Preocupado, porém curioso o magistrado Richardson concordou com os argumentos aceitando a proposta. Em seguida começou a selecionar mentalmente aqueles que poderiam ser os seus convidados para acompanhá-lo naquela missão tão atípica e preocupante.

Novamente Tigre Veloz com outra bandeira, agora inglesa tomava o seu rumo em direção a Inglaterra. A tripulação como era de se esperar vestidos com a elegância de nobres viajantes milionários navegavam em rítmo de festa e entusiasmados. Incrível mas naquele momento realmente poderiam considerar-se milionários, o carregamento que transportavam era valiosíssimo. Contudo, ainda não lhes pertenciam.

Pelo fato do saque ter acontecido em águas internacionais, não tinha como outro país reivindicar o direito sob à carga. Era intenção de Charles Grahann, mesmo depois de identificar os culpados dos crimes que a eles foram atribuídos e os autores condenados, nem mesmo a Inglaterra teria direito ao seu conteúdo, a qual seria vendida e o resultado da arrecadação dividida entre os seus corajosos lobos do mar, que a partir daquele momento estariam livres de todas as acusações e milionários.

No seu martírio da volta, o infeliz comandante capturado imaginasse o castigo a que iria se submeter preferiria mil vezes a morte a ser colocado como prisioneiro. Espantalho com sua elegância demoníaca o aterrorizava insistentemente, não lhe permitindo descanso ou até mesmo um beve cochilo aliviador. Tratava-se de uma pessoa não grata, além de um velho conhecido inimigo de todos e todos o julgavam grande devedor. A tortura chegou a ser tão angustiante que quase o levou a loucura.

Quando Tigre Veloz aportou como majestoso navio de cruzeiro, tremulando no mastro principal a orgulhosa flâmula inglesa, sua tripulação vestida a caráter, desceu em terra e chorou copiosamente, afinal foram anos a espera daquele momento tão aguardado. Seria também a oportunidade de rever familiares que nem imaginavam como poderiam se encontrar, ou até mesmo se foram responsabilizados e duramente torturados em busca de respostas e informações que desconheciam. Imediatamente, assim que conseguiram respirar o ar saudoso da pátria querida, enviaram notícias ao seu líder que apareceu depois de algumas horas vestido como um lorde. Todos riram e brincaram efusivos com a situação. Depois de acertados os detalhes da revelação foram visitar o prisioneiro que se encontrava em estado merecedor de cuidados. Sua aparência estava mais próxima de um moribundo do que o próprio capitão no auge do momento em que foi nomeado com o referido nome em terras portuguesas. Um médico se encarregou de recuperá-lo, enquanto isto o respeitado juiz estava sendo informado de todos os detalhes que convinha a missão. Antes, porém, toda a carga saqueada havia sido descarregada e colocada em lugar seguro para evitar algum tipo de acontecimento imprevisto.

Alguns dias se passaram. Quando tudo estava visivelmente normalizado, Claude Fontaine convidou os supostos amigos e protegidos pelo status de nobre personalidades - também seus alvos de esclarecimentos -, a visitarem o seu navio que acabara de adquirir e que se encontrava ancorado no porto principal. Como combinado previamente, o juiz e outras autoridades do reino encontravam-se devidamente acomodados em uma sala contígua - escolhida com capricho, envolvendo criterioso cuidado para o momento -, acompanhavam cada detalhe da conversa a bordo. Após longas trocas de amabilidades Charles orgulhoso do seu navio, mostrava prazeroso o luxo interno das acomodações provocando aos sorridentes covidados manifestações de satisfação e elogios. Sem mais delongas então chegou o fatídico momento da cuidadosa e bem elaborada ocasião. Bastou abrir uma porta para aparecer diante de todos aquele que seria o verdadeiro espectro da maldição. Quando apresentaram o prisioneiro o espanto e a incredulidade tomou conta dos convidados. Tratava-se nada menos que Johnny Flampper, o corsário bandido, que já havia assumido o ataque ao Tigre Veloz nas imediações do Canal da Mancha, acrescentando ainda que mesmo ferido se recuperasse com a ajuda dos seus comparsas. Revelou em seguida que depois de recuperado, retornou à sua vida de saqueador a mando dos ilustres figurões, atividade que admitiu praticar a vários anos sob as ordens e orientação de George Lemmon seu principal mandante. Esclarecidos os crimes, todos os envolvidos foram julgados e condenados à forca.

Concluído os trabalhos de julgamento na Corte, Claude Fontaine revelou sua verdadeira identidade como Charles Grahann e de toda sua tripulação, sendo imediatamente absolvidos de todos os crimes a eles responsabilizados, além de serem condecorados envolvendo todas as honras com comendas entregues pelo prórpio Rei em uma movimentada festa no palácio real.

Charles não abandonou suas atividades como empresário de perfumaria e ainda manteve-se como milionário e dono de um extraordinário navio de cruzeiro. Como se não bastasse recebeu do Rei, pelos seus méritos de serviços prestados à coroa o título de Sir Lord of the Golden Tiger, entregue pela Soberana Corte do Parlamento Inglês. Os amigos seguiram seus caminhos também como milionários. Todavia, agora como cidadãos respeitados na condição de livres e nobre sonhores do reino.

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quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Valentes e corajosos homens do mar - 2ª Parte.


Na parte anterior você viu o perfil de Charles Grahann, a forma e os motivos que o fezeram se transformar no temível pirata
capitão Moribundo.
Agora verá sua trajetória de bucaneiro determinado em arquitetar o seu plano de se aproximar dos seus devedores.

Após o saque ao Galeão Constelación, quem via Tigre Veloz singrando o mar calmamente amparado pela bandeira portuguesa, imaginaria de imediato tratar-se de ricas personalidades em viagem rumo a algum lugar majestoso, quem sabe até à corte brasileira. Todos vestidos a caráter para não deixar qualquer dúvida e também se protegerem de navios de combate a serviço da coroa inglesa ou francesa, países contrários a pirataria no Atlântico em defesa de seus interesses. Para esses momentos de garbo, quem aparecia visivelmente à frente no comando, era Charles Grahann elegantemente vestido com sua túnica branca que destacavam lindos botões dourados e o seu belo boné de capitão com lustrosos detalhes também em dourado, navegando logo abaixo a linha do equador no hemisfério sul. Era tardinha quando o vigilante atento do alto do seu obervatório avistou ao longe outro navio de aparência suspeita dirigindo-se em sua direção. Imediatamente, Charles Grahann deu suas ordens de manterem-se calmos como inofensivos passageiros. Também orientou os canhoneiros para se posicionarem e no momento oportuno tornarem visíveis as escotilhas e abrirem fogo sem chances de revide.

Quando o navio inimigo se posicionou a estiboro da nau comandada pelo astuto bucaneiro com larga experiência em combates, este se certificando serem também piratas confiantes de presa fácil surpreendeu-os com uma saraivada de tiros por 14 canhões infalíveis que partiram certeiros do confiante Tigre Veloz em direção à embarcação aventureira. Antes de ir a pique, os desavisados sobreviventes inimigos ainda tiveram o tempo suficiente para se atirarem ao mar, deixando a embarcação disponível para que os homens do capitão Moribundo recolhessem armas e munições que serviriam para abastecer e ampliar seu arsenal. A intenção não era deixar sobreviventes, mas valia o direito do salve-se quem puder, porém, nada de resgatar marinheiros ou fazê-los prisioneiros. Sempre que ocorria um embate com resultados favoráveis e sem baixas, capitão Moribundo nas vestes do elegante Charles Grahann, como aprendiz de astrônomo cercado de superstições acreditava que no momento das abordagens os astros estavam alinhados a seu favor. Também como curioso vigilante e interessado em astronomia, gostava de se orientar principalmente nas suas navegações noturnas pelas estrelas, quando ficava horas contemplando o espaço com um pequeno telescópio a bordo.

Novamente Tigre Veloz seguiu seu rumo. Com o mar traquilo, saboreando o ar do verão e a sensação de liberdade, confiantes de nenhum transtorno pela frente aproximaram-se da costa caribenha, serenando nas águas rasas, mornas e azuladas do Mar das Antilhas. Abaixaram as velas mantendo-se suavemente a deriva, todavia, atentos ao posicionamento da bússola e cartas náuticas sob comando. A intenção era aportar na Ilha de New Providence, de onde ouvira contar várias histórias de piratas e suas notáveis aventuras de saques milionários em riquezas provindas do continente já em curso de dominação definitiva pelos espanhóis. Antes de ancorar especificou detalhadamente como seu pessoal deveria se comportar. Enquanto ele e uns poucos permaneceriam a bordo.

- Quando chegarmos à ilha procurem andar em grupos menores. - Disse àqueles que iriam se aventurar em terra firme.

- Comportem-se como pessoas ricas. Levem bastante moedas de ouro.

- Conversem em voz rozoavelmente audível. Traçam planos de aquisição de terras quando chegarem ao Brasil. E que suas passagens pela ilha deveu-se a erro nos cálculos de navegação, mas logo pretenderiam retomar a viagem com destino certo. Dessa forma atrairão a atenção dos faras-da-lei e assim chegaremos aos seus chefes, ou comandante. - Reforçou seus argumentos o capitão Moribundo.

Esclarecidos os detalhes, deixou por conta de cada um. Não haveria de dar errado. Eram homens experientes e sabiam comportarem-se como tal.

Não demorou muito o plano começou a surtir efeito, quando um dos grupos conseguiu fazer prisioneiros quatro elementos mal intencionados que haviam tentado roubar-lhes. Como não estavam lidando com amadores, tornaram-se facilmente dominados, sendo logo levados à presença do capitão que já os aguardavam em lugar seguro, fora do navio. Forçados a falar contaram tudo que queriam saber e foram logo liberados confiantes de que imediatamente seu comandante tomaria conhecimento e assim seria fácil ser capturado. O plano não era matá-lo, mas sim, se informar das forças repressoras e também quem dominava aquelas águas e ilhas para eles desconhecidas.

Através desta atitude foi informado de que Henry Morgan antigo corsário inglês como ele, havia enveredado para o mundo dos infratores, com um diferencial: tornara-se importante na região após seu ataque à cidade do Panamá em 1670, e posteriormente ter se transformado em vice-governador de Port Royal na Jamaica, e por fim, rico dono de plantações de canas-de-açúcar.

Não tomando conhecimento da importância do seu rival naquelas águas, soubera impor suas condições de audacioso e temido homem do mar. Após cinco anos de inesquecíveis aventuras e se tornado rico juntamente com seus marinheiros e elegantes marginais, retornou a Europa. Antes da partida fez uma cuidadosa reforma no Tigre Veloz ampliando suas condições de acomodações e outros requintes internos, com a finalidade de lhe valer tanto como navio de combate e pirataria, como de uma luxuosa embarcação de cruzeiro. Tornou-se, digamos, num perigoso camaleão de luxo e de ataques precisos. Fez questão de instalar no seu camarote, importantes e modernos instrumentos de comando marítimo, com o que existia de melhor para sua época e só possíveis para quem tivesse muito dinheiro, detalhe que para ele não fazia mais a diferença. Sobretudo, acreditava que o momento era ideal de retornar à sua terra de origem e fazer as reparações contra ele e seus seguidores.

Além de ter se tornado rico, sua imagem apareceria renovada. Os resquícios que ainda poderiam existir dos tempos em que era comandante pirata na área, haviam ficado para trás e o que importava daquele instante pra frente, seria concretizar sua vingança provando sua inocência. Esclarecer as acusações de que fora vítima pela armação engendrada com intenções escusas de torná-lo bode expiatório pelas pilhagens praticadas por ricas autoridades inglesas, dentre elas George Lemmon, importante figura na Administração Comercial do Rei, que havia se beneficiado do seu infortúnio.

Nesse período em que esteve longe dos acontecimentos em torno do reino inglês e também dos ataques e saques por piratas na costa européia e africana, imaginou-se esquecido pelas autoridades que atuavam contra a pirataria, ou até mesmo ter sido considerado como morto. Como gratificação, foi o tempo suficiente para construir o seu próprio império econômico, contabilizando muitas riquezas em ouro e pedras preciosas, oriundas das terras em fase de dominação e colonização pelos espanhóis. Espantalho havia se transformado num mito do alto-mar, graças a sabedoria do seu comandante e sua aparência convenhamos, nada atraente. Dentre as batalhas travadas por eles, duas mereceram destaque. A primeira quando Tigre Veloz interceptou um Galeão Espanhol desconhecendo a escolta que o acompanhava algumas milhas atrás. Quando tudo parecia resolvido e os piratas do capitão Moribundo comemoravam, foram surpeendidos por tiros de canhões que por pouco acertavam em cheio a embarcação espanhola que acabara de saquear abarrotada de homens invasores festivos. Com a surpresa, utilizando-se de calma e perícia, o comandante pirata ajudado por outros quatro companheiros que continuavam a bordo do Tigre Veloz, fez da embarcação inimiga vencida de escudo. Com a habilidade de uma raposa do mar, surgiu inesperadamente a bombordo sorrateiro e infalível. Só precisou disparar quatro tirambaços certeiros - também o que dispunham no momento - no navio escolta para desativar todas as defesas do oponente, deixando a conclusão da missão por conta dos seus bem treinados e inflexíveis soldados piratas. O confronto deixou o cenário da imensidão marítima em um amontoado de destroços fumegantes.

Outra ocasião de destaque foi no momento em que estavam ancorados na Ilha dos Mascates, próximo da gruta Fossor, quando recebeu a visita indesejada do também pirata Henry Avery outro ambicioso rival e outro Henry no seu caminho. Este imaginando a tripulação inimiga entretida na comemoração pelo seu rico saque, onde essa mesma fortuna era esperada com alguma antecedência por ele sua corja, e por se sentir lesado pela adversidade da ocasião resolveu agir de surpresa e por conta própria. Como estavam em terra, distantes dos seus canhões vitoriosos, o implacável capitão de dupla personalidade Moribundo, teve que lutar com todas suas forças e coragem. Podia-se ouvir o tilintar das espadas e assistir a agilidade dos saltos felinos praticados pelos dois oponentes, esquivando-se dos golpes brutais das lâminas afiadas. Havia sangue no canto da boca e dentes de Henry Avery provocado pelo soco certeiro que atingiu o seu maxilar dado pelo jovem adversário durante um instante de vacilo. A violência da pancada com o punho da mão esquerda agarrada ao cabo da espada transformou-se num duplo impacto. Depois era conhoto o que tornava mais difícil antecipar seus gestos. Enquanto isto os demais lutavam impondo todas suas destrezas com suas armas letais. Ocorreu-se então uma sangrenta colisão de forças experientes, quando henry ficou mortalmente ferido pela espada cortante de Moribundo, revelando mais uma vez suas habilidades com as armas, principalmente com a espada e adagas.

Com o objetivo de colher o maior número de informações sobre o que estava acontecendo na corte inglesa sem deixar suspeitas, Charles Grahann resolveu primeiro se instalar provisoriamente na França. Neste país ele sabia que uma vez infiltrado no alto escalão social, saberia como adquirir as informações necessárias para dar curso aos seus propósitos. Sob a identidade de um escritor irlandês, frequentando altas rodas da cultura e da sociedade imperial, na companhia de ilustres personalidades, foi colhendo dados importantes que lhe serviriam para arquitetar o seu plano. Nesta época ficou conhecendo Jacques Villefronsiér um rico empreendedor no setor de perfumaria. Não poderia ter uma parceria melhor e mais oportuna. Através de Jacques, Charles Grahann sempre bem acompanhado das mais importantes figuras da corte francesa, especializou-se em fragrâncias e dos processos de industrialização. Sua ideia inicial seria se especializar em vinicultura, assim penetraria com mais facilidade na nobreza inglesa grande apreciadora de vinhos. Contudo, a sorte acompanha aquele que persiste indo à busca de evidências e de quem não tem medo de encará-las. Sendo assim, o setor de perfumaria estaria de bom tamanho, mesmo porque as damas inglesas pelas suas vaidades davam grande valor à perfumaria francesa.

Com os conhecimentos adquiridos e consolidando a parceria através do emprego de significativa quantia em recursos financeiros, idealizou abrir uma filial francesa no seu país. O sucesso não demoraria. Sob uma nova identidade, agora como Claude Fontaine, propositadamente criado para não revelar sua verdadeira cidadania, partiu com destino à Londres com o seu plano de vingança pré-estabelecido. Lógico que faltava muita coisa para adentrar no cerne da sociedade inglesa. Mesmo sob a pele de um importante investidor no setor de essências aromáticas algo mais seria indispensável. Mas não desistiria, os demais benefícios viriam naturalmente, perspicácia não lhe faltavam.

Brevemente, ainda nesta semana estarei publicando a última parte deste conto, que não deixa de ser uma aventura para cada leitor. Obrigado pela atenção.

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sábado, 17 de outubro de 2009

Valentes e corajosos homens do mar.


O dia amanhecia depois de uma longa noite a espreita de que a qualquer momento uma tormenta quebrasse o mar com ondas de mais de três metros, o navio Constelación de bandeira espanhola, carregado de especiarias vindas das Índias, navegava incauto sobre nuvens escuras e carregadas. No céu ensurdecedores trovões ecoantes e horrendos raios cortantes. O horizonte ainda escuro pelo nevoeiro e a chuva que teimava não cair, a embarcação cumpria o seu destino, próximo da costa africana a oeste das Ilhas Canárias. Sua tripulação já havia passado por situação quase semelhante há alguns anos atrás, quando o Galeão carregado, enfrentou ondas que batiam no seu casco com tanta violência, parecia que ia virá-lo. A fúria das águas chegava a lavar o convés fazendo da embarcação um brinquedo de criança. Enquanto isto seus ocupantes agarravam-se aos seus credos com fé. Mesmo com todo esse clima perverso causado pela natureza arredia e descontente, se sentiam melhor do que ter que enfrentar a perigosa nau capitaneada pelo capitão Moribundo, nome atribuído a Charles Grahann, temido pirata que tinha o Atlântico como o seu principal reduto de ação e pilhagens. Tinham consciência que se enfrentassem os piratas a situação lhes seria desfavoráveis. Seria vencer ou morrer. Haveria muito derramamento de sangue. Não existiram possibilidades de contar somente com a sorte e sim com a habilidade de cada um e as condições das armas disponíveis.

O grande e pesado galeão espanhol Constelación navegava lento em direção ao Mediterrâneo. Próximo a Gibraltar, Tigre Veloz o aguardava impune de qualquer suspeita. No momento oportuno bastava arriar a bandeira francesa da qual usava como escudo, para de imediato hastear a temida flâmula com a imagem do Tigre Dourado estampada a tremular no mastro superior, transformando-se no terror dos mares.

Infiltrado na tripulação do Galeão um fiel espião facilitaria toda a ação da embarcação pirata. Teria como pretexto desviar a atenção dos marujos e no momento apropriado provocaria um premeditado incêndio no tombadilho, lugar ideal para emissão de sinal e de fácil propagação das chamas. A carga muito ambicionada e valiosa há muito era aguardada. O valor da carga subtraída os permitiria desaparecer por uns tempos, escondendo-se nas Antilhas, mais precisamente em uma das centenas de ilhas do arquipélago das Bahamas.

Enquanto o tombadilho ardia em chamas e tripulação envolvida em deter o fogo, eis que surge lado a lado do Galeão como um fantasma, Tigre Veloz. A surpresa foi tamanha que a rendição aconteceu sem violência e precisar efetuar um disparo sequer. Os próprios piratas ajudaram a conter as chamas. Após o vitorioso saque, capitão Moribundo representado pelo o Espantalho, liberou a embarcação e sua tripulação, deixando-lhes todos os víveres indispensáveis e desapareceu mar adentro. Destino, Mar das Caraíbas.

Quando terminou o confronto capitão Moribundo reuniu os seus valentes companheiros e expôs o seu plano de imediato:

- Companheiros amigos! - Disse-lhes em voz firme e alta.

- Esta nossa conquista de hoje será a última, pelo menos por enquanto, nestas áreas. - Continuou dizendo seguro de sua decisão aos companheiros.

- Estamos sendo muito constantes nestas áreas. Com o resultado deste saque temos mais que o suficiente para ficarmos fora por uns tempos. - Continuou explicando.

- Estou convencido e decidido de que devemos seguir para o Mar do Caribe. Temos informações que vultosos tesouros são transportados de lá com destino à Espanha e a França. Podemos ganhar muito mais se formos pra lá, depois deixaremos de sermos notícias por uns tempos. - Expôs sua decisão.

- O que me dizem? - Questionou.

- Lá podemos nos misturar entre os outros piratas e tornar nossas ações menos declaradas, além é claro, se tivermos sorte podemos construir um grande império financeiro. Temos uma meta, um objetivo, e dele não podemos nos afastar, ou nos furtar. É uma questão de honra, arriscar para defender nossa própria integridade de homens de bem. Pelo menos éramos! Concordam que é o certo e o mais seguro? - Definiu a proposta.

Não foi preciso dizer mais nada, sendo apoiado de imediato por todos.

Uma vez acertados os detalhes partiram dali mesmo em direção de seus ideais, como homens em busca da glória e fortunas; como homens que colocam suas vidas à disposição de uma aventura para buscar resultados que os levassem a provar suas inocências ultrajadas pela ganância de pessoas maldosas e sem nenhum critério de justiça.

No ano de 1698 o navio ostentando magnífica bandeira inglesa, navegava retornando pra casa, quando foi surpreendido nas proximidades do Canal da Mancha por outro navio também de bandeira inglesa que Charles Grahann o conhecia muito bem. Seu comandante capitão Johnny Flampper era outro respeitado corsário inglês pelas inúmeras façanhas e bem-sucedidos ataques a outros navios inimigos. Na época a Inglaterra e a França haviam acabado de resolver algumas pendengas que resultaram em perdas para ambos os lados. Na ocasião a Inglaterra também estava passando por problemas de questões internas. Neste ano foi estabelecido o resultdo da Revolução Gloriosa, que eliminou definitivamente o Absolutismo inglês para proclamar o Parlamentarismo.

O capitão Charles Grahann julgando-se seguro continuou seu curso despreocupado. De repente notou a aproximação inesperada do navio conterrâneo sem nenhum aviso prévio, mesmo assim resolveu esperá-lo, contudo, dedicando-lhe mais atenção, não era normal tal atitude por isto não confiava plenamente no que via. Arriou as velas porque em caso de um confronto inevitável, não arriscaria perder seu importante instrumento de navegação e o aguardou imaginando na possibilidade de que também poderiam ser ordens vindas da corte, visto que, estavam no mar a longos meses em combates ou atracados em algum porto do Atlântico para vistorias ou manutenção. Sua aparente tranquilidade não durou muito, há distância de alguns metros notou algo estranho no comportamento do suposto amigo. Através de sua luneta percebeu Johnny Flampper dar ordens para atacar o seu navio. Só poderia estar cumprindo ordens, não faria isto deliberadamente, ainda mais em se tratando de um navio com a mesma bandeira, pensou. Com fúria, rapidamente também emitiu ordens para sua tripulação se posicionar adequadamente que seriam atacados. Uma batalha sem precedentes foi declarada entre as duas forças. Entretanto, com sua destreza de exímio espadachim e certeiro atirador com suas armas, Charles Grahann só esperou o primeiro disparo e partiu para o revide, para surpresa geral do oponente que o imaginava desguarnecido e despreparado.

Usando de muita astúcia, Charles Grahann enfrentou Johnny e seus asseclas. Depois de sangrento embate saiu-se vitorioso. Entretanto, foi ferido nas costas por um tiro de mosquete que o fazia sangrar muito, mas não lhe impediu de lutar até o final. Como era jovem e forte suportou a dor, a fraqueza e a febre até ser levado ao litoral português e ser atendido por uma senhora que por não saber o seu nome, e nos seus momentos de delírio falar coisas com coisas, passou a lhe chamar de moribundo. Assim passou a ser conhecido, tanto pela homenagem à obstinada e cuidadosa senhora portuguesa como pela simpatia que o nome traria para a saga e o futuro de um transgressor e líder destemido, no comando da tripulação do navio que passou a ser denominado de Tigre Veloz. E que nos momentos de confronto indiscutivelmente fazia tremular o seu respeitado estandarte de guerra com a estampa de um grande Tigre Dourado, animal que passou a admirar nas suas viagens à Índia.

Tigre Veloz, seu navio agora de várias bandeiras, artimanha utilizada para confundir suas presas, era rápido e com facilidade desaparecia no horizonte sem deixar rastros. Com esta capacidade diabólica de evaporar após um bem-sucedido saque, já havia ganhado destaque e temor para qualquer navegante.

Levava a bordo além de homens corajosos, 28 canhões escondidos por escotilhas que não deixavam quaiquer indícios e vestígios de suspeitas. Para todos que o viam não passava de um navio de passageiros. Por isto eles próprios o chamavam de navio camaleão. Quando atracava sua tripulação transitava pelas cidades livres e incólumes. E o seu comandante podia frequentar com naturalidade altas rodas sociais, como um elegante e bem sucedido fidalgo de origem e descendência desconhecidas.

Eram através destas facilidades, espertezas e a camuflagem sob as vestes de elegantes senhores, é que conseguiam as informações importantes e devidas para arquitetar suas ações com antecedência. Tempo suficiente para um planejamento eficiente de suas atitudes, aliado à previlegiada competência e sabedoria do seu comandante, que não perdia uma boa oportunidade de efetuar uma valiosa intervenção.

Grahann antes de se tornar homem do mar era uma pessoa comum. Filho de uma bem estruturada família inglesa. Talvez seu fascínio pelo mar se devesse pelos inúmeros livros que havia lido no decorrer de sua juventude. Por determinação e cuidados dos pais, estudou sob a batuta de nobre professores em ricas e importantes escolas do reino. Dedicou-se com afinco a todas as disciplinas e assuntos, com interesse maior por idiomas, história, filosofia e estronomia. Havia lido autores importantes e sabia comportar-se com desenvoltura e distinta elegância em qualquer situação. Com os seus 30 anos, porte físico forte, esbelto era um exemplo de beleza e simpatia, também era um sedutor contumaz, capaz de impressionar as mais exigentes damas.

Acontecimentos involuntários e imprevistos às vezes determinados pelo acaso são capazes de mudar a postura de uma pessoa levando-as a trilhar caminhos antes não imaginados. Foi o caso do capitão Moribundo, ou capitão Charles Grahann. Não fazia parte de seus ideais baseados na retidão, na honra e na disciplina de um bom patriota se tornar transgressor. Era um jovem e destemido corsário a serviço da coroa inglesa. Após ser traído de forma ardilosa, covarde e vergonhosa, imputando-lhe crimes deploráveis de roubo contra o patrimônio econômico do seu país e assassinatos com requintes de crueldade sem merecimento. Com estas consequências e para evitar ser julgado e condenado por fatos por ele não praticados, resolveu impor o seu próprio regime de lutar contra os mal intencionados líderes da coroa e de forma pouco convencional, iria construir o seu império mesmo de forma ilegal, com o propósito de obter o necessário para financiar seus objetivos de vingança, além de mostrar seu poder de domínio sobre qualquer potência marítima de sua época nas águas profundas dos oceanos, indepenente da cor ou do desenho do brasão estampado na bandeira de suas vítimas.

Capitão Moribundo também usava como estratégia esconder-se por trás da figura de um de seus marinheiros e amigo de batalhas Gaborow, o Espantalho. Senhor surdo com aproximadamente 45 anos, aparência desgastada pelas brabezes do tempo, olhar firme e frio; sobrancelhas espessas davam-lhe a impressão de um homem implacável, reforçada por uma longa barba grisalha, permitia-lhe que o seu comandante fora-da-lei se mantivesse no anonimato. Como não era possível se expressar através de palavras, seus gestou rústicos impunham-lhe um estereótipo de uma medonha e desalmada criatura, com poucas características humanas, demonstrando estar mais próxima do assustador e intrépido espantalho, curiosamente maquiado pela sua aparência asquerosa e mal vestido, onde era comum vê-lo usando um grande chapéu semelhante aos da corte francesa, com um grande penacho vermelho carmim na extremidade lateral de uma das largas abas.

Esta intrigante história de ação e aventura continua rapidinho, ainda esta semana. Muitos acontecimentos envolvendo coragem e emoção estarão por vir. Não deixe de conferir.

Imagens: Internet, Fotosearch

sábado, 10 de outubro de 2009

Na trilha do lirismo - Nº 02

Ana Carolina Sansão, ou simplesmente Nina Sansão, como gosta de se identificar é uma adolescente de 17 anos, que escreve com a maturidade de uma pessoa que trilhou experiências de gente grande. O seu trabalho literário é digno de ser observado com atenção pelo olhar exigente dos editores e livreiros. Logo seus versos vergarão o comportamento e o pensamento pragmático de muitos caçadores de talentos


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No seu poema "Um ser irrelevante" a autora transcende a visão lúdica do poeta na construção dos seus versos, ao contar sua história baseada mais no sentimento do que na razão. Nesta viagem poética, normalmente o escritor conta o que lhe vem da alma, fertilizando o brotar da semente do amor com toda a magia do serenar do orvalho que embeleza uma flor. Contudo, esta maturidade precoce faz de Nina uma poeta que cresce sabendo aonde o seu caminhar a levará. Sem dúvida um conhecimento só permitido àqueles que têm talento.






Um ser irrelevante



O poeta não sabe fingir,

ele interpreta a realidade.

Nunca vê o fim

porque nada é de verdade.




O poeta não ama,

fala de amor, apenas.

De nada ele reclama,

mas de tudo se lamenta.




Foge da verdade...

Em cada verso um disfarce!

Canta um mundo de felicidade

e lágrimas de crueldade.




O poeta se esconde no medo

e no desejo de ser melhor.

Tem na mente um segredo:

"Queria ser um ser pior!"




Não vê maldade,

não sente rancor...

Mas na verdade

gostaria de renunciar ao amor.




Um poeta de verdade

não conta sílabas ou métrica,

ele sente, a alma invade,

e nasce então o falso poema!

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Em "Eis a realidade", seu outro poema, a autora remete as fantasias do pensamento, para contar os seus desejos juvenis, numa imaginária vontade de viver sua fábula pessoal. É como se Esopo e La Fontaine emergissem das lembranças, para incorporar suas mãos seguras na caneta mágica dos sonhos, correndo sobre a pauta livre de uma página em branco carente por uma mensagem de amor. Ainda que necessário seja para tocar o coração de criança sonhadora que queima sua alma, a espera do seu príncipe encantado montado em seu fogoso cavalo branco, para fazer reviver do sono profundo a Bela Adormecida de sua meiga sensibilidade infantil, aguardando com ansiedade o beijo da descoberta.






Eis a realidade



Uma criança caminha pela estrada

sem olhar para trás,

à procura do conto de fadas

que não existe mais...




Em meio à sua jornada

ela encontra um atalho

e no meio do nada

surge um jardim encantado.




O sonho muda de cor

quando um pequeno príncipe

declara seu amor

sob o luar que ali existe.




Com um beijo sela-se o laço

que encerra o sonho encantado.

O conto de fadas é esquecido

e o sentimento fortalecido...




Eis mais um final feliz

para uma história mal contada:

O que a criança sempre quis

morreu com seu conto de fadas!

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Na trajetória do ser humano, depois de ter vivido todas as estações da vida com total entrega, dizer adeus torna-se um martírio pessoal. A autora Nina Sansão em "Não escolhemos dizer adeus", navega sua imaginação por sitações onde mesmo com toda a frieza do tempo, as boas recordações se aquece na lareira da boa convivência. Faz lembrar a criança que chora na despedida da mão que a protege; faz acreditar que o céu com todo o seu esplendor de encantos e brilhos, ilumina o ambiente ressequido e insano do vento gélido no inverno da pureza do olhar. E novamente dizer adeus não é fácil, mesmo que a esperança tenha sido contada e que o próprio destino também irá contar.





Não escolhemos dizer adeus



O sol brilhava intensamente

ignorando o auge do inverno

quando uma estrela cadente

alcançou o longinquo universo...




A pequena muito temia

porque nada mais era igual.

O céu estrelado que antes havia

jamais voltaria a ser real.




Ao deparar-se com o novo mundo

uma criança pode confortar

a incerteza e o medo profundo

com a magia do olhar.




Um doce e sincero sorriso

acalentou o caração aflito,

mas a mudança de estação

separou um só coração.




Cada um seguiu seu caminho

vivendo o que ditava o destino,

sempre perdendo-se em olhares e sorrisos

de um sentimento impreciso.




Quanta esperança foi cantada?

Quanto poderiam viver?

Não saberemos, pois outro conto de fadas

o destino começa a escrever!


Fotos: Internet

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O planeta Paulo Coelho

Este artigo que estou publicando, texto de Marcelo Camacho com a colaboração de Roberta Paixão, Carlos Graieb e Virgínie Leite, matéria de capa da Revista Veja de 15 de abril de 1998, não tem a pretensão de destacar somente a importância de Paulo Coelho como escritor, mas também, de sua afinada e eficiente estratégia de marketing que envolve suas publicações e da forma como é conduzida por toda sua equipe direta e indiretamente nos bastidores, além é claro, do carisma envolvente do autor.
Desde 2002, Paulo Coelho ocupa a cadeira nº 21 da ABL - Academia Brasileira de Letras, em substituição ao economista, senador e ministro do Planejamento no Governo Castello Branco, Roberto Campo que morreu em outubro de 2001. Também é inegável e indiscutível seu prestígio no contexto literário internacional.
Em resposta esteve presente em Copenhague, capital da Dinamarca, unindo forças ao lado do Presidente Lula, Ministro dos Esportes Orlando Silva, Governador Sérgio Cabral e do Prefeito Eduardo Paes do RJ, Presidente do COB Carlos Arthur Nuzman, rei Pelé e vários atletas medalhistas olímpicos brasileiros, na campanha para convencer o Comitê Olímpico Internacional, aprovar o Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas de 2016.

As fotos não correspondem à publicação original, foram capturadas de forma aleatória na Internet.

Confirmado, o Rio de Janeiro será Sede dos Jogos Olímpicos de 2016

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O planeta Paulo Coelho

Como o mago açoitado pela crítica se transformou no escritor brasileiro mais vendido ao redor do mundo.


Paulo Coelho, cujo qual é conhecido no Brasil, por seus admiradores como "mago" e por seus detratores como "picareta", acaba de bater um recorde histórico: é o segundo brasileiro a atingir a marca de 20 milhões de livros vendidos ao redor do mundo. A façanha o transforma num fenômeno sem paralelo na cultura brasileira. Sobre o outro autor nacional que já vendeu a mesma quantidade de livros, Jorge Amado, Paulo Coelho leva três vantagens. A primeira é que chegou a esse número impressionante em muito menos tempo - dez anos, contra mais de sessenta anos de carreira do autor de Dona Flor e Seus Dois Maridos. A segunda é que, enquanto o venerável baiano publicou 37 livros, ele atingiu a mesma vendagem com apenas oito volumes editados. A terceira é que conseguiu chegar a esse patamar graças, unicamente, a seus próprios méritos - apesar de seu indubitável talento literário, Jorge Amado, militante comunista, contou com a ajuda dos partidões espalhados pelo mundo para propagar sua obra. Sem a ajuda do ouro de Moscou, e provavelmente sem nenhuma mandinga poderosa, Paulo Coelho conquista mercado atrás de mercado, principalmente na Europa, onde ele não é conhecido nem como "mago" nem como "picareta", mas por uma palavra que os críticos brasileiros em geral não têm coragem de pronunciar quando se referem a ele: "escritor".

Os integrantes do Ministério da Cultura, por exemplo, não acham que Paulo Coelho mereça essa qualificação, tanto que não o convidaram para a delegação que representou o país oficialmente no Salão do Livro de Paris, no mês passado (referindo-se a março/98), que teve o Brasil como tema principal. Mesmo assim, Paulo Coelho apareceu por lá por contra própria, convidado por sua editora e roubou a cena lançando em solo europeu O Monte Cinco, seu último romance, que saiu no Brasil há dois anos. Enquanto a maioria dos escritores brasileiros passou praticamente despercebida da multidão, ele recebeu do público francês a atenção dispensada a uma estrela pop. Em visita à feira, o presidente Jacques Cirac cobriu-o de gentilezas - afinal de contas, o brasileiro havia sido condecorado, em 1996, com a Comenda das Artes e das Letras pelo governo da França. Sua tarde de autógrafos menos concorrida o fez assinar livros durante quatro horas ininterruptamente. No melhor dos dias, ficou sete horas autografando. "Os organizadores do Salão do Livro disseram que nunca viram nada igual em mais de dez anos", diz Anne Carrière, a editora de Paulo Coelho na França. "Em três semanas, já vendemos 200 000 exemplares de O Monte Cinco."

O ponto alto de sua passagem por Paris, que incluiu incontáveis entrevista para TVs e jornais, foi um jantar para 700 pessoas no Carroussel, área de eventos localizada no subsolo do Museu de Louvre que costuma abrigar os grandes desfiles da capital da moda. Mônica Antunes, a agente de Paulo na Europa, comanda de Barcelona a operação que o transformou em sucesso em todo o globo terrestre. "O Alquimista foi traduzido para 38 idiomas, e não é todo autor que consegue isso. O Mundo de Sofia, do norueguês Jostein Gaarder, que foi um livro badalado, não chegou a tanto. E o Paulo escreve numa língua que não é inglês, francês nem alemão. É difícil fazer sucesso escrevendo em português. Mas hoje o idioma do Paulo já não importa, ele é universal", diz ela. Com 20 milhões de livros vendidos, Paulo Coelho é um fenômeno para um escritor brasileiro, mas não chega perto ainda dos grandes best-sellers internacionais, como John Grisham, o escritor mais bem-sucedido da atualidade, com 87 milhões de livros vendidos no mesmo período de Paulo Coelho, ou Danielle Steel, que vendeu 360 milhões de cópia em vinte anos. Essas cifras só são possíveis no mercado em que esses dois escritores atuam, o americano, maior do mundo. A façanha de Paulo Coelho, hoje publicado em 73 países, além do Brasil, é conseguir penetrar em vários mercados distintos e, em todos eles, conseguir uma legião de seguidores.

Essa "universalidade" de que fala sua agente parece ser uma das causas do sucesso internacional de Paulo Coelho. O Brasil praticamente não aparece em seus livros, que despertam igual interesse em umbandistas baianos e espíritas suecos. Suas fábulas contendo ensinamentos constumam ser ambientadas em lugares como a Espanha ou o norte da África, mas poderiam passar-se em qualquer tempo e lugar. Ecumênicos, seus livros podem ser lidos sem susto por gregos e troianos, religiosos e materialistas. Em fevereiro (antes a 15/04/98) passado, ele foi convidado a participar do Fórum Mundial de Economia em Davos, na Suíça. No evento, discorreu para empresários e banqueiros sobre insuspeitas ligações entre misticismo e economia. Ao final de uma palestra em que , entre outras coisas, falou sobre a importância de cada um despertar "a mulher que todos trazem dentro de si", foi procurado por um estranho. "Ele me perguntou se eu me importaria em encontrar o Shimon Peres, que queria me conhecer", lembra Paulo Coelho, que não titubeou em aceitar a proposta. "Li todos os seus livrso", foi logo dizendo o ex-primeiro-ministro de Israel ao avistar o escritor, que, desde novembro passado, é conselheiro especial da Unesco para o programa Convergências Espirituais e Diálogo Intercultural, cujo principal objetivo é estabelecer o diálogo inter-religioso.

Neste ano, Paulo Coelho fez uma solicitação a sua editora italiana, a Bompiani: queria conhecer o papa. Para conseguir sinal verde de sua santidade, a editora teve de submeter seus livros a especialistas do Vaticano, que os analisaram durante dois meses. As mesmas obras que servem de ponto de partida para palestras empresariais não foram consideradas danosas à fé católica, e Paulo Coelho conseguiu o encontro com João Paulo II. Católico fervoroso, desses que fazem três orações por dia - ao acordar, às 6 da tarde e antes de dormir -, ficou emocionadíssimo. "Como católico, admiro o papa por ter devolvido o sentido do sagrado à Igreja. O mundo está passando por uma conscientização da sua espiritualidade", teoriza.

Quando se tenta entender o fenômeno Paulo Coelho, a primeira explicação que vem à mente é o crescente interesse que assuntos místicos e religiosos, abordados por seus livros, despertam no mundo atual. Às voltas com um cotidiano repleto de solicitações materialistas, das quais nem sempre podem dar conta, as pessoas precisariam de um escape espiritual, de um sentido transcendental para as suas vidas. A explicação é válida, mas há uma outra razão para o sucesso de Paulo Coelho, bem mais terrena. Ele sabe vender sua imagem, é um especialista em marketing, esquecidas as conotações negativas atribuídas ao anglicismo "marketing" e ao adjetivo "marqueteiro". Antes de se tornar escritor Paulo Coelho foi executivo da indústria do disco. Entre suas criações nessa área está a figura de Sidney Magal, o falso cigano que rebolava em churrascarias da noite carioca e, mediante uma armação de gravadora, foi transformado num supersucesso fonográfico em meados dos anos 70. Paulo Coelho domina as leis do sucesso na indústria fonográfica, e essas leis são as mesmas que regem o tipo de literatura popular que pratica. 

A operação de lançamento de um livro seu é geralmente parecida com a de uma nova banda de rock. Sua editora na Itália, por exemplo, fechou, durante uma semana, cinco pequenas ruas em cinco cidades italianas - Roma, Milão, Bolonha, Orvieto e Nápoles - e batizou cada uma delas de Via Paulo Coelho. Viraram o que se poderia chamar de ruas temáticas. Em Orvieto, O Monte Cinco estava em todas as vitrines - e a rua coberta de cartazes e balões de gás. Numa casa de carnes de caça, um javali morto, de óculos de grau, "lia" o livro de Paulo arrumado entre suas patinhas. Numa loja de roupas, um manequim de vitrine trazia O Monte Cinco no bolso do casaco. Paulo se mantém a par dessas estratégias e, para usar um jargão da indústria fonográfica, "trabalha" seus livros da mesma maneira que um cantor "trabalha" uma música participando de programas de auditório e entrevistas no rádio.

"O sucesso é muito bom, não tenho nenhum conflito com ele", diz Paulo Coelho. "Mas para obtê-lo é preciso um esforço hercúleo, um rigor muito grande". Na semana passada, ele voltou ao Brasil para uma curta temporada de um mês. Em maio voa para a Grã-Bretanha, onde passa oito dias divulgando O Monte Cinco em entrevistas e tardes de autógrafo. Cada dia dormirá numa cidade diferente. Só terá um dia de folga. De lá segue para o Japão, onde fica mais quinze dias. Nem quando está no Brasil ele descansa muito. Na última terça em seu apartamento de frente para o mar de Copacabana, no Rio de Janeiro, deu uma entrevista para o programa Bons Baisers d'Amerique, da TV5 canadense. Na quarta, por telefone, falou com repórteres de dois prestigiados jornais ingleses, o Sunday Times e o The Gardian. "Fico cansado só de ler a agenda do Paulo, que tem uma dedicação absoluta ao que faz. Ele poderia preocupar-se menos com entrevistas e noites de autógrafos, mas faz tudo com uma humildade de estreante", diz seu editor no Brasil, Roberto Feith.

Apesar de honrar tantos compromissos profissionais, Paulo Coelho é na verdade, um grande preguiçoso. Quando não está viajando, sua rotina consiste em acordar depois do meio-dia, checar seus e-mails no computador e dar uma caminhada na praia com a mulher, a artista plástica Cristina Oiticica, de 46 anos, com quem está casado há dezoito. Depois disso, não sai mais de casa. Das 4 às 6 da tarde, resolve por telefone e fax problemas burocráticos referentes à administração de sua obra. A única refeição que faz ao dia é o jantar. Passa suas madrugadas lendo, vendo televisão ou navegando na Internet. "Somos o oposto um do outro. Ele é a noite e eu, o sol", diz o compositor e produtor Roberto Menescal, o melhor amigo do escritor. Paulo não vai ao cinema nem ao teatro. 

Outro dia cogitou assistir a um show do cantor paraibano Chico César, que ele considera genial. Mas bateu aquela preguiça. "Ir a um show é um sacrifício inumano. Só saio de casa forçado." Paulo não bota o pé na rua nem para cortar os cabelos. Seu barbeiro, Paulinho, o visita de tempo a tempo. Para encarar a rotina dentro de casa, ele conta com um bom argumento: seu apartamento de 380 metros quadrados de frente para o mar de Copacabana. Não bastasse a metragem privilegiada quase todas as paredes do imóvel foram derrubadas. O quarto-escritório-banheiro do casal é surpreendentemente despojado. As paredes são pintadas de branco - a mesma cor do chão -, há pouquíssimos quadros nas paredes e, de móveis, só o essencial: cama, mesa, cadeiras, sofás. Ele não gosta de guardar quinquilharias em casa porque acha que dá azar. A única exceção fica por conta da coleção de isqueiros da marca Camel.

Em seu novo livro, Veronica Decide Morrer, já concluído e com lançamento previsto para o próximo mês de agosto/98 no Brasil, o escritor Paulo Coelho acerta as contas com um episódio de sua juventude. Em 1965, quando tinha 18 anos de idade, ele foi levado pelo pai a uma clínica psiquiátrica. O engenheiro Pedro Coelho de Souza, de formação rígida, suspeitava que o filho estivesse com algum problema mental porque o jovem havia repetido de ano duas vezes seguidas, não conseguia concentrar-se nos estudos e, para completar, cismara que queria fazer teatro e se tornar escritor. Depois do exame médico saiu o diagnóstico: loucura. O passo seguinte foi interná-lo num hospital psiquiátrico carioca, onde permaneceu um mês, até que conseguiu fugir. 

O pesadelo, no entanto, teria continuação: no ano seguinte, o pai resolveu interná-lo de novo. Dessa vez, foram dois longos meses de reclusão, durante os quais recebia a visita da namorada, uma aspirante de atriz chamada Renata Sorrah. Desesperado, ele fugiu novamente - só que em vez de voltar imediatamente para casa, passou vários meses viajando pelo Nordeste. Em Veronica Decide Morrer, Paulo Coelho contará a história de uma mulher que, a certa altura da vida, é dada como louca. "Fui tido como louco porque queria escrever. Hoje sou um escritor de sucesso. Acho fundamental passar essa mensagem para as pessoas", diz Paulo Coelho.

Passado o trauma das internações, ele mergulhou de cabeça num mundo novo: o movimento hippie. Deixou crescer os cabelos, andava sem documentos e experimentou quase todas as drogas. "Só nunca usei heroína. Custava caro e me dava medo." No final da década de 60 ele foi preso pela primeira vez. Tudo por causa de uma partida de futebol a que foi assistir no Paraguai, país cujo nome não suporta, até hoje, ler, ouvir ou pronunciar. É sua maior supertição. O ano era 1969. Paulo Coelho, sua namorada na época e mais dois amigos resolveram ir de carro ver um jogo de eliminatória da Copa do Mundo. Na volta para casa, os quatro estavam numa pizzaria comemorando a vitória do Brasil quando militares armados os levaram presos. Foram tomados como assaltantes de banco. "Eu era hippie, minha namorada, iugoslava e nossos amigos, comunistas. Deu tudo errado", lembra. Ficaram presos durante uma semana e depois liberados.

A implicância com o Paraguai também tem a ver com sua segunda prisão, em 1974. Ele e Raul Seixas já eram parceiros musicais, amigos, adeptos da magia negra e viviam muito doidões. Durante um show de Raul Seixas em Brasília, Paulo Coelho caiu na besteira de subir ao palco e falar a favor da anarquia. Corria o regime militar e, na volta ao Rio, Raul foi chamado para depor na polícia. Paulo Coelho resolveu ir junto. Antes de sair de casa, vestiu uma camisa que sua mãe lhe havia dado, fabricada no torrão natal do general Alfredo Stroessner. Trajando sua camisa paraguaia, o futuro escritor foi preso e torturado. Ficou em cana durante um mês. Dessa experiência, a pior recordação foi o dia em que se viu jogado, completamente nu, numa cela escura, com ar-condicionado ligado no máximo e na qual reverberava o som agudo de uma sirene. "O lugar era chamado de geladeira. Entrei em pânico e prometi para mim mesmo que, se saísse vivo dali, meus anos loucos terminariam."

Longe vai esse tempo sombrio. Hoje, aos 50 anos (até 15 de abril de 1998), Paulo Coelho tem uma fortuna estimada em 11 milhões de dólares. O dinheiro de Paulo permite que ele e Cristina vivam com conforto, mas sem ostentação. Seu apartamento em Copacabana custou 300 000 dólares. A mesma quantia foi empatada na reforma do imóvel. A maior parte do dinheiro está aplicada em investimentos bancários de pouquíssimo risco. Paulo tem apenas um carro, um Renault 19, preto, sempre conduzido pelo motorista José Carlos. "A primeira providência que tomei quando ganhei dinheiro foi contratar um motorista. Acho estacionar no Rio de Janeiro desumano", diz o preguiçoso incorrigível. Através do Instituto Paulo Coelho, ele destina 400 mil reais por ano a instituições infantis e asilos para idosos. À frente do instituto está Cristina, encarregada de fiscalizar o bom uso do dinheiro.


Fenômeno nas livrarias, agora só talta Paulo Coelho chegar às telas. Quatro livros de Paulo estão com seus direitos negociados para adaptações cinematográficas. O Alquimista pertence aos estúdios Warner Bros., que pagaram 270 000 dólares pelos direitos de filmagem do livro, uma quantia irrisória para os padrões hollywoodianos, e até agora não fizeram um roteiro que agradasse ao escritor. "Já quis o livro de volta, pelo dobro do preço, mas não conseguiu", lamenta Coelho. Com a produtora Virgin aconteceu coisa parecida. "Odiei os três roteiros que eles fizeram de O Diário de um Mago." O livro As Valkirias está nas mãos do produtor Santiago Pozo, que é membro da Academia de Hollywood, quer fazer um filme internacional, claro, mas para os papéis de Paulo e Cristina - que são personagens do livro - o produtor quer atores brasileiros. "Para o meu papel ele disse que está pensando na Cláudia Abreu. Para fazer o Paulo, ele pensou em Pedro Cardoso", diz Cristina. Paulo Coelho ri da ideia. "Devem ser os únicos atores brasileiros que ele conhece. O Santiago deve ter visto O que É Isso, Companheiro? na disputa pelo Oscar e tirou daí esses nomes", diverte-se. A opção de compra dos direitos de Na Margem do Rio Piedra Eu Sentei e Chorei pertencia, há dois anos, à belíssima atriz francesa Isabelle Adjani. Por um descuido, os advogados dela deixaram de renovar o contrato. Agora, a agente americana do escritor quer vender o livro para a atriz Julia Roberts que está interessadíssima na história. Paulo Coelho já fez a sua escolha. "Prefiro a francesa", diz ele. Descartar Julia Roberts, optar por Isabelle Adjani? sucesso é isso. O resto, convenhamos, não passa de literatura.